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Vasconcell os -Abreu, Guilherme
de
Passos dos Lusíadas
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SOCIEDADE DE GEOGRAPHÍA DE USDUA
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mum 1 LUZ oiMiíOLOJíí e do omENiiLism
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CONGRESSO INTERN&CIONAL DOS ORIEMTALISTAS
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G. DE VASCONCELLOS-ABREU
Lente de sámscrito no Curso Superior de Letras
s, s. a. L.
LISBOA
IMPRENSA NACIONAL
1892
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PASSOS DOS LUSÍADAS
SOCIEDADE DE GEOGRAPHIÂ DE LISBOA
PASSOS DOS LUSÍADAS
[SIUDAOOS i LyZ DA IIIIOLOJÍÂ E 00 ORIENIALIIO
MEMORIA APRESENTADA Â X SESSAO
DO
CONGRESSO INTERNACIONAL DOS ORIENTALISTAS
POR
G. DE VASCONCELLOS-ABREU
Lente de sámscrito no Curso Superior de Letras
S, S. G. L.
LISBOA
IMPRENSA NACIONAL
1892
^Q
V
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a
Jytíciano Sozòeízo
A sociedade que deu maior impulso às conferencias e
festas camoneanas, aquela em cujo seio tudo se preparou
para a comemoração do tricentenário do Grande Épico dos
povos românicos, a que melhor concorreu para que se ce-
lebrasse em Lisboa o notável cortejo cívico do dia 10 de
junho de 1880, foi a «Sociedade de Geographia de Lisboa».
Na sala principal desta benemérita sociedade fiz no dia
4 de maio daquele ano a conferencia que publiquei, para
comemoração do tricentenário de Camões, com o título
Fragmentos d'uma Tentativa de Estudo Scoliastico da Epo-
peia Portugueza.
Induziu-me a isso, muito particularmente, o amável con-
vite do secretario jeral (hoje perpetuo) daquela sociedade,
o meu amigo Luciano Cordeiro.
Keedito agora neste opúsculo, a convite e instancias do
mesmo amigo, a parte de mitolojía e mitografía compara-
das que propriamente era a escoliástica nos Fragmentos.
Se da primeira vez julguei que o meu trabalho não era
digno de entrar no concurso dos literatos portugueses, me-
nos julgo desta vez que ele seja digno de se apresentar
num congresso internacional de orientalistas.
II
A minha missão tal como a tenho compreendido, desde
1881, pe'las circunstancias de meio científico do meu pais,
no que diz respeito a estudos históricos, mui particular-
mente filolójicos, e sobretudo orientais, é a que eu já an-
tevira ao escrever o prefacio com que dei a lume a minha
conferencia.
Em 1880 dizia eu no prefacio dos Fragmentos d'uma
Tentativa de Estudo Scoliastico da Epopeia Portugueza:
«Desde que em 187Õ comecei a dedicar-me ao estudo
das Htteraturas orientaes, principalmente da hindu antiga,
julguei de necessidade o apreço scientifico das obras dos
clássicos portuguezes que melhores noticias nos deixaram
das terras da Ásia.
Os commentarios deficientes, que alguns contemporâneos
de Camões, e outros scoliastas, fizeram da obra do grande
épico portuguez, assignalaram-me a falta d'aquelle apreço.
E não só os Lusíadas * o merecem, mas também os Collo-
quíos de Garcia da Orta* e as Peregrinações de Fernão
Mendes Pinto ; e convém escolher na volumosa obra de
Gaspar Corrêa as lendas de interesse real, e esclarecel-as
como Yule o fez para as viagens de Marco Polo.
Dos nossos viajantes é mister colher quanto ainda está
inédito, e levantar á altura que lhes é devida os nomes
quasi esquecidos de Bento Góes, António de Andrada,
Manuel Freyre, Fr. Tristão da Cunha e outros, que anda-
ram pelas regiões inhospitas da Ásia, já passando o Himá-
laya pelo Pir-Panjal, e pelo Mariam-la chegando a Lhasa,
já atravessando o Pamir, e penetrando na China.
^ Felizmente os Colloquios de Garcia da Orta estão sendo edita-
dos e explicados com são critério e segura erudição pe'lo sr. Conde
de Ficalho; dos Lusíadas deu ultimamente à estampa o Canto I o
sr. F. de Salles Lencastre, com aparato ilucidativo de primor des-
conhecido entre nós, e com o grande realce do estudo da pronuncia
da lingua portuguesa feito pelo ?r. A. R. Gonçalves Vianna.
III
Do coração me consagraria eu a estes trabalhos se a
fortuna, privando-me de meios de que para esse afadigado
estudo carece o espirito, me não deixasse apenas, como á
timida borboleta, azas que não são para voo altivo.
Como a larva que, transformada, vem para entre as flo-
res batendo em adejos vacillantes as leves e mal seguras
azas, eu sinto-me tomado de vertigem quando me trans-
formo ao sol da sciencia, soltando-me do casulo escuro
de obrigações penosas para o meu espirito.
Com afan, incansável, labuto e lido com a pressa da
maripoza, mas com o vigor de quem só por si ha de levan-
tar um edifício, acarretando pedra e afeiçoando-a, aplai-
nando toda a obra até chegar ao concerto total.
Pedra britada que salta d'esse afeiçoamento, e marava-
lhas que se juntam d'esse aplainar, são estes fragmentos
amostras dos materiaes que disponho e não do fim com que
os ordeno».
Nunca tive a louca pretensão de ser um orientalista que
por trabalhos próprios enriquecesse o tezouro das pesqui-
zas orijinais com que se engrandece a ciência. Carecia
para isto de meios pecuniários de que não pude nunca dis-
por e de meio científico que ainda não se formou entre
nós. Carecia de recursos em manuscritos e mesmo livros,
jornais e outros trabalhos impressos, que as três princi-
pais bibliotecas, mais ao meu alcance, a Biblioteca Pública,
a Biblioteca da Academia Real das Ciências, e a da Socie-
dade de Jeograíia, me não podem fornecer.
O meu desejo tem sido sempre implantar os estudos de
samscritolojía em Portuga], país a que sempre os julguei
necessários, e prestar testemunho de honra à minha pátria
escrevendo um capítulo da sua historia ultramarina. São
com efeito dois os pontos que eu tenho trazido sempre em
mira no meu empenho de estudo das cousas orientais, um —
o conhecimento e compreensão da índia, outro — escrever
IV
à luz deste conhecimento e guiado por esta compreensão a
Historia Portuguesa da Ásia.
A doença, que já em 1880 me flajelava e se prolongou
até 1884, e os desenganos, que dia a dia se acumulam,
amorteceram-me o vigor : já não penso com entusiasmo na
possibilidade da realização daquele meu empenho.
Cuanto, porém, para isto tenho feito digam-no as obras
já publicadas por mim, as discussões que tive na Comissão
das Missões no Ministério da Marinha e Ultramar, e as
vãs promessas dalguns políticos, que rápidos têem passado
à superfície da minha atmosfera, como estrelas cadentes (!)
e efémeros (!) meteoros, sem esclarecerem as trevas de
olvido em que uns e outros me deixam a mim e ao meu
empenho.
Dessas discussões, dessas promessas nada resta ; só há
para testemunho do meu esforço esses poucos livros que
tenho dado à estampa, no intuito de aplanar dificuldades a
quem depois de mim vier trilhar a estrada que deixo
aberta, e no intuito de ministrar aos nossos missionários
da índia conhecimentos que lhes são indispensáveis.
Estes livros são : Manual -para o estudo do sàoskrito
clássico. — Vol. I, tomo I: Grammatica (1881-1882, in-8.°
p. XXIII, 186); tOmo II: Chrestomathia (1883-1891,
in-8.° p. 214, VI). — Vol. II, tomo I: Exercidos e Pri-
meiras leituras de sámscrito (1889, in-8.° p. 173, fora o
índice, as erratas e o prefacio, que tudo vai ser dado com
o tomo II). — A Literatura e a Relijião dos Árias da ín-
dia. Parte I : Introdução : Logar da literatura árica da
índia na historia da civilização do Mundo e sua influen-
cia no critério sociolójico moderno (188Õ, in-12, p. XXXII,
171).
Os três primeiros livros são publicações feitas por conta
do Estado, em Lisboa na Imprensa Nacional, e ao Estado
cumpre fornecê-los aos missionários que de Portugal vão
para a índia. O cuarto livro é edição de Paris. Em nenhum
teve o autor interesse pecuniário, de nenhum auferiu pro-
veito material.
Com o mesmo desinteresse, e no mesmo intuito tenho-
-me ocupado nestes dois últimos anos na redacção do vo-
cabulário de sámscrito do tomo I do vol. II. Constitui esse
vocabulário o tomo II do vol. II ; tenho dele já impressas
três folhas e a 4.* vai brevemente entrar no prelo ; deve
o tomo ser de cerca de 350 pájinas. Com esse tomo intro-
duzo o método comparativo no estudo da morfolojía sams-
crítica.
É desta maneira que entendo a minha missão de orien-
talista, em Portugal.
Todos estes trabalhos (e não falo aqui de pequenos fo-
lhetos e artigos) têem sido feitos em luta constante contra
resistências passivas de meio adverso a estudos desta natu-
reza, e à custa de muitos sacrifícios : As imposições irre-
sistíveis da vida têem-me levado, muitas vezes, a minha
actividade de espírito para outro campo e obrigado a inter-
rupções demoradas.
Nesta luta em que se perdem tantas forças úteis para o
trabalho pacífico, descuidei tudo cuanto não fosse a tarefa
a que me obrigara por julgar assim mais profícua a futuros
estudiosos a minha dedicação.
Todavia como do aplainar da obra saltam as marava-
lhas, assim do meu estudo glotolójico destes últimos anos
têem saído aparas com que pensei compor Memoria que
fosse melhor cabida homenajem ao Congresso.
Mas veiu logo o casulo das obrigações oficiais prender-
-me e tive de exercer gratuitamente, por ordem do Minis-
tério do Reino e Instrução Pública, até fim de julho, as
funções de examinador no Liceu de Lisboa. Examinei em
francês, em português, em literatura, em historia; não
escrevi a minha memoria para o Congresso, e perturbei
completamente o meu cérebro com aquele trabalho fati-
gante e com o atordoamento moral pe'lo que durante
aquele tempo de exames vi e ouvi, inferi e verifiquei.
VI
Refujiei-mc nesta caldeia, aonde me trouxe para sossego
a espontânea hospitalidade dum amigo, e aonde a incan-
sável actividade doutro veiu lembrar-me a promessa, com
que para ele eu me havia obrigado, de refazer a minha
conferencia de 4 de maio de 1880.
Cumpro a promessa. Atrevo-me a tanto! e até certo
ponto por estar hoje fora do mercado o meu trabalho pri-
meiro.
Poucos são os passos dos Lusíadas que interpreto neste
escrito, e deles havia já tratado por ocasião do centenário
de Camões.
Entendi que devia eliminar a parte meramente literária
dos centÔes e corrijir e ampliar a que mereceu encómio de
alguns homens de ciência, que me honraram no apreço do
meu estudo escoliástico.
A um desses, muito especialmente, devo testemunhar
o meu público agradecimento. E o sr. Donald Ferguson,
que se dignou traduzir em inglês, com o título Buddhist
Legends, o meu primitivo ensaio de mitografía e mitolojía
comparadas.
De umas brevíssimas observações que o sr. Donald
Ferguson fez à minha tradução do canto IX do Dipa-
vamsa (ed. de Oldenberg), aproveitei agora o que era
justo, e é tão-sómente o que se refere ao verso 18,
pesunã, e ao verso 32 que prefiro ler e traduzir como
Oldenberg preferiu e eu já havia feito notar a páj. 49,
nota 1, que ele preferira. Emeuanto à tradução de ava-
ssakã nos versos 13-14 rejeito a que eu dera, e traduzo
mais ou menos como Oldenberg ; com efeito Oldenberg tra-
duziu «helplessly» e eu traduzo «sem governo»; para isto
guieime pe'lo sámscrito, passando o páli avassakã para
a forma avasjakam e atendendo a que avasja significa
«que se não sujeita à vontade doutrem».
A propósito da observação do sr. Donald Ferguson no
tocante à minha tradução «ir de gatinhas», direi que esta
J
VII
tradução é pe'lo menos tão boa como a de «to craw]».
«Andar de gatinhas» ou «engatinhar» é expressão portu-
guesa comum e, se não pintoresca no ponto estético, des-
critiva no símile, pe'lo cual designamos o andar das crian-
ças arrastando-se de joelhos e com as mãozinhas no chão,
no período em que ainda não podem pôr-se de pé e andar
erectas. Direi mesmo que o verbo «engatinhar» ou a perí-
frase «ir de gatinhas» escusa o dizer-se acom pés e mãos» ;
há nisto redundância, que deixei ficar por querer traduzir
as palavras ubhopãnlhi ganniihi, e não ser este
pleonasmo cousa para estranhar-se em português verná-
culo. Em inglês traduz-se muLto bem «engatinhar» por
«to creep with hands and feet».
Enriqueceu o sr. Donald Ferguson o meu pequeno traba-
lho com a sua tradução do játaca do Cavalo- Nuvem. Dou
esse játaca em seu logar, na própria versão inglesa, e com
as respectivas notas que a acompanham no folheto em que
se trasladou o meu.
Se aos orientalistas e aos camoneauistas merecer alguma
importância a reedição do trabalho publicado por mim por
ocasião do tricentenário de Camões, agora assim modifi-
cado, seja isso em louvor de Luciano Cordeiro, a cujas
instancias se deve e para cujo preito o dedico.
Agualva, 23 de agosto de 1892.
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superior,
As queixas amargas e punjentes, em que por vezes
vemos demorar-se Camões, não lhe fazem esquecer o que
viu, o que leu e o renascimento clássico ensinava aos mais
ilustres filhos da escola italiana, não lhe toldam o apreço
dos homens com quem tratou, nem exajeram as dificul-
dades e perigos que ele combateu. Os desastres «miseran-
dos» e «tristes», os «novos trabalhos» e os «novos danos»
em que a fortuna «o trazia peregrinando»
com pobreza avorrecida,
Por hospícios alheios degredado
o poema dos Lusíadas é a Epopeia da Pátria Portu-
guesa, a autobiografia do Poeta, e uma enciclopédia em
transunto reduzido
Em pequeno volume
de todo o saber de então, e das tradições próprias do sé-
culo XVI na Europa e das que àquele tempo nos tinham
vindo do Oriente.
As queixas amargas e punjentes, em que por vezes
vemos demorar-se Camões, não lhe fazem esquecer o que
viu, o que leu e o renascimento clássico ensinava aos mais
ilustres filhos da escola italiana, não lhe toldam o apreço
dos homens com quem tratou, nem exajeram as dificul-
dades e perigos que ele combateu. Os desastres «miseran-
dos» e «tristes», os «novos trabalhos» e os «novos danos»
em que a fortuna «o trazia peregrinando»
com pobreza avorrecida,
Por hospícios alheios degredado
não lhe acabrunham o espirito nem o estorvam de relatar,
confirmando, o que das terras da Aurora disseram os his-
toriadores e viajantes que primeiro delas falaram, nem de
colher dos próprios naturais fiel interpretação ainda não
sabida.
Até a última estrofe, Camões é seguro no conhecimento
como é sublimado no canto, ardente no enjenho, e tão vigo-
roso na frase como de seu provado valor alevantado.
De usos e lendas de povos orientais que ele refere,
pouco explica a lição dos comentadores do Poeta; pe'lo
quê, sem me erguer a confronto com eles, neste breve es-
tudo escoliástico, pretendo aqui explicar algumas referencias
desses factos sociais, que hoje tanto interessam aos doutos
que investigam a demopsicolojia, por verem, nesse enleio
infantil das civilizações passadas^ as ténues palhas de que
se fizeram os calabres poderosos, que ainda acorrentam
as civilizações hodiernas.
Os monstros de Pegu. Os homens-cães
Um dos cantos dos Lusíadas que mais tenho estudado
cotejadamente com historiadores e viajantes nossos, ó o
Canto X; a obra que mais se deve comparar com o que
o Poeta nos relata nesse canto é o notável périplo de
Duarte Barbosa.
Com Duarte Barbosa está ele de acordo no estranho caso
e não menos singular usança, que relata cuando diz :
«Olha o reino Arracâo, olha o assento
De Pegu, que já Mõstros povoarão,
Môstros filhos do feo ajunctamento
Dhua molher e hum cão, que sos se acharão :
Aqui soante Arame no instromento
Da geração custumão, o que usarão
Por manha da Raynha, que inventando
Tal uso, deitou fora o error nefando».
L. X, foi. 181.
Os «monstros filhos do feio ajuntamento» de que fala
o Poeta são os Gares de Pegu e sul de Berma, selvajens
denominados «homens-cães» pe'los Bermas*.
1 Bastian, Oestl. Asien, I, 133. O Dr. B. quere que se escreva
Birmá e não Barmá, Bramah, Burmah, etc. Duarte Barbosa escreveu
Berma, ortografia melhor que Brama e que nós Portugueses de-
vemos seguir.
Do costume de trazerem soante arame no instnimento
da jeração lê-se noticia mais desenvolvida em a descrição
das costas orientais africanas e do Malabar dada por
Duarte Barbosa [Hakluyt Society de Londres^ páj. 184 do
resp. vol., e in Noticias para a Historia e Geografia
das Nações Ultramarinas, publ. pela Acad. R. das Scien-
cias de Lisboa, 1812, tomo II, páj. 366, ou da 2.* ed. páj.
360-361).
Diz assim :
HAKLUYT 80CIETT
«... traen en los capi-
rotes de sus miembros unos
cascavellos redondos cosy-
dos soldados entre la carne
y el cuero por hazerselos
mayores, algunos traen três,
y algunos cinco, y algunos
syete, y dellos de oro y de
plata y otros de metal, los
quales les van sonando de
que andan y an lo por mu-
clia gentileza y las mugeres
huelgan mucho con ellos y
no quieren hombres que no
los tengan, y los que mas
honrados son, esos los traen
mas y mayores.»
A. R. DAS CIÊNCIAS
«... trazem suas natu-
ras nhús cascavéis redondos,
cerados, e muy grandes, co-
sidos e soldados por dentro
antre ho couro e carne, por
fazerem grande soma, e tra-
zem muitos destes até sinco,
deles saom douro, outros de
prata, ou metal segundo hos
que hos trazem, e quando
andaom fazem grande som,
ho que haom por grande
honra, gentileza; e quanto
mais honrados, trazem mais:
has mulheres folgam tanto
com iso que nom querem
homeins que os não te-
nhaom, e nom digo mais
deste costume pola desones-
tidade.»
Para lastimar é não o dissesse que a não há em ciência.
Ibn-Batutah relata estes estranhos costumes por forma
que não há que duvidar-se. Damos a tradução da passajem
respectiva segundo Defrémery e Sanguinetti (ed. da So-
ciété Asiatique, IV, 224-22Õ) :
i(Les hommes de ce pays nous ressemblent au physique,
si ce n'est que leurs bouches sont pareilles à des gueules de
chien. Mais il n'en est pas de même de leurs femmes (con-
corda com João de Barros, Década III: 3, 4,°) qui sont
d'une esquise beauté. Les hommes sont nus et ne revêtent
pas d'habit, seulement, quelques-uns placent leur membre
viril et leurs testicules dans un étui de roseau peint et
suspendu à leur ventre. Les femmes se couvrent de feuilles
d'arbres. ... les indigènes s'accouplent comme des brutes,
et ne se cachent pas pour cela (Barros, Z. c, diz:« pois
que no acto do ajuntamento d'elles, querem imitar os
cães»).
O P.® Barbe (apud Yule in The Book of Ser Marco
Poloj 2.^ ed., II, 294) dá-nos conta de se julgarem os povos
do Nicobar* descendentes duma raça canina e humana-
mente de mulheres. Tradição esta que bem pode ser expli-
cada pe'lo modo de contar o parentesco pe'la linha feminina,
como é uso ainda entre os Berraás^.
Marco Polo dizia já dos habitantes das ilhas Andamanes
que eles -tinham cabeça de cão, e olhos e dentes de cão.
1 A mesma crença noticiam Schirren, Die Wandersagen der Neu-
seelãnder, etc, páj. 155. Waitz, Ântropologie der Naturvôlher, 5, 33;
apud Liebrecht, Zur VolksTcunde, páj. 20. Bali, in Jungle Life in
Índia, Londres, 1880, diz dos Nicobares: «The people struck me as
being the most unprepossessing I had ever seen; the round-faced
jolly-looking Andamanese being handsome as compared with them.
Owing to the incessant habit of chewing pawn their teeth are in-
tensely black, the incisors of the lower jaw often protruding in an
irregular manner like tusks. The tongue, too, is more or less black,
and in the mouths of some there appeared to be horny growths or
accumulations, which prevented tbem closing their lips». Páj. 191.
Mais adeante, páj. 206-207, escreve : «They (the Nicobarese) are
said to posses two traditions as to their primary origin, the first
being that they are sprung from ants, and the second that they are
descended from a man and a dog — the sole survivors of a great
inundation.
2 Os Nicobares e os Bermas tèem pontos étnicos comuns inegá-
veis. Veja-se o que diz Bali, l. c.
6
Os Cara-Quirguizes do Issicol e Cocande explicara o seu
nome étnico dizendo : que descendera de cuarenta rapa-
rigas (kirk kize), as cuais, um dia, voltando depois de
pequena ausência aos seus lares, não encontrarara os pais
nem os rebanhos, porque inimigos lhes haviam levado os
homens e animais ; que viram vmicamente nas vizinhan-
ças um câo vermelho, com ele coabitaram e daí provêem
os actuais Quirguizes pretos^.
A estas lendas de homens cinocéfalos anda, de certo
modo, conjunto o bárbaro costume dos sacrifícios humanos
e da antropofajia^, e talvez em muitos dos pontos a que
elas se estendem, — desde a China à Etiópia, à Europa,
à América — , ficasse subsistente a disposição artificial dos
dentes caninos aguçados para melhor rasgamento das carnes.
Assim os Cubanos descreveram os Caribas a Cristóvão
Colombo, dizendo-lhe eram comedores de homens e terem
focinho de cão. Em lendas da Dinamarca conta-se dos ho-
mens-cães habitantes da Finlândia. E também dos Belgas
6 dos Galos nos dizem os Padres da Igreja que eram an
tropófagos ainda em tempo dos Romanos. E dos Borus,
antigos Prussianos, diz Ibn-Said que eles eram homens
com focinho de cão.
Entre alguns povos encontra-se a lenda da orijem canina
não só duma tríbu determinada, dum povo exclusivamente,
mas dos homens em jeral.
Dizem os Ainos que ao tempo em que do lodo foi tirado
o mundo, o vento e as ondas trouxeram, de manhã, em
um navio, uma mulher à formosa ilha em que eles vivem.
Ura dia, estando a banhar-se viu vir nadando apressado
para ela um grande cão, e ela assustada quis fujir-lhe
e esconder-se, mas o cão disse-lhe : «Deixa-me ficar con-
tigo, serei o teu companheiro e o teu defensor, e assim tu
1 Journal Âsiatique, VI serie, 2, 311 ; apiid Liebrecht, l. c,
2 O canibalismo dos Andamanes está hoje contestado por viajan-
tes dignos de crédito. V. Bali, op. c, páj. 212-213.
escusas de tornar a ter medo». Ela consentiu nisto e desta
ligação nasceram os Ainos, isto é, os homens ^.
Aos cães são substituídos ainda, em algumas lendas, os
lobos ; e na Europa um grande império teve principio com
os dois expostos amamentados por uma loba, ou filhos de
uma loba, e fim com o filho de um cão: Rómulo e Remo
foram amamentados por uma loba, como Ciro foi amamen-
mentado por uma cadela, e Átila descendia dum cão.
Nestas crenças, nestas superstições, nestas lendas, há
apenas um aspeto do que hoje, em ciência, se denomina
totemismo. A tríbu ou a familia escolhe o tótemo ou o do-
daime, como o padrinho ou a familia, entre nós, escolhe o
nome do neófito. Determina-os muitas vezes o acaso, se a
tradição familial ou local ou ainda mesmo a fantasia não
os resolve na escolha. Outras vezes o individuo chegado à
puberdade pratica um acto solene que afirme a sua eman-
cipação. Este acto é cuási sempre um sacrificio em logar
ermo. Depois de concluído o sacrificio o sacrificador escolhe
para seu tótemo^ para seu dodaime, o primeiro animal que
passa, ou que ele veja, em sonho mesmo que seja; e para
tornar mais solene esta crisma, pica-se e deixa correr algum
sangue do próprio corpo.
Chamei crisma a este facto bem conhecido já desde o
século passado e confirmado modernamente por etnógrafos
6 viajantes. Facto semelhante se pratica entre nós: moços
de jente rude há que desenham com picadelas numa parte do
corpo, — costas das mãos, braços, peito, principalmente — ,
o tótemo pe'Io cual ficam conhecidos por toda a vida, a esse
facto dá-se entre nós, nalguns pontos do país, o nome de
crisma. Alguém julga ser isto mera tatuajem.
1 Lindan, Voyage au Japon, ap. Liebrecht, Zur Volkskundcy
pnj. 10.
Assim crismados os indivíduos, natural é que, em povos
de civilização rudimentar, tanto no Antigo- como no Novo-
-Mundo, o tempo leve as famílias à conclusão de que elas
descendem do animal cujo tótemo deu o nome ao seu pri-
meiro avô. O ascendente de que a familia provém fica
sendo, jeralmente, um herói avito, sobretudo se no decorrer
das jeraçôes se chega a constituir tríbu ou povo com ca-
racteres assinalados, ou pe'lo menos povo denominado à
parte na mesma rejião habitada por outros povos ou tríbus.
A amamentação do herói por uma fera é modo de ser
atenuado da mesma crença.
Em muitas lendas, com efeito, os heróis são crianças
enjeitadas amamentadas por feras, são filhos de feras ou
salvos por elas, e não só entre os povos das antigas civi-
lizações e de todo o Antigo-Mundo, mas até no Brasil, onde,
entre os lucarés, o herói Tiri foi um enjeitado amamentado
por um jaguar *.
Os Guelfos, tão afamados pelas suas guerras com os
partidários do senhor deWiblingen, os por isso chamados
Gibelinos, são descendentes de cães, de uma tímida mãe
ou de uma madrasta cruel, que abandonou as 7 ou 9 crian-
cinhas enjeitando-as e fazendo-as passar por cachorrinhos
cegos (cachorrinhos, Welfe = junge HundeJ'^.
i)a mãe que tem 7 filhas a fio, sem intervalo de nenhum
filho varão, a sétima filha é bruxa; e se tem 7 filhos a fio
o sétimo é lobisomem; assim crê o nosso povo^.
* Consultem-se, entre outras obras, Miiller, Americ. Urrclig., já
citado, Hanusch, Slav. Mylh., Tylor, Wild Men and Beast Children,
e Primitive Culture, Liebrecht, op. cit, o cual dá copiosa biblio-
grafia. Cf. o mito de Édipo^ e a lenda de Simhabáhu.
2 Liebrecht, Romulus und die Welfen, in JZur Volk^knd.
3 Veja-se Consiglieri Pedroso, As bruxas na ti-adiçào do nosso
povo, in Positivismo^ 2.° ano.
9
Em algumas rolijiões o cão é um animal cuási sagrado.
Entre o nosso povo a língua do cão é benta; cura as feri-
das dos homens lambendo-as ; o seu uivar faz lembrar almas
do oufro-mundo. E os Arménios acreditam em seres so-
brenaturais ou divinos, cujo nome é Arlez ou Aralez, nas-
cidos dum cão, os cuais lambem as feridas dos guerreiros
caídos no campo da batalha tornando-os à vida*.
Entre os Eraníos o cão merecia cuidados especiais e
cuási iguais aos que merecia o próprio homem. Se a criança
devia estar sete anos sob protecção particular, protecção
idêntica era devida ao eão durante os primeiros seis meses.
Acerca do cão depois desta idade lejísla o Avesta com por-
menores tais, que o torna cuási igual ao homem ^.
O olhar do cão faz fujir os entes malévolos, crêem em
jeral os Árias. E comum à mitolojía dos Árias o mito do
cão guarda do Inferno. Ao Cérhero, '/.é^^s^oç da mitolojía
grega, correspondem nos monumentos literários em sáms-
crito os dois cães de lama, de largas ventas, de cuatro
olhos e mosqueados ^ guardas do paraíso ; correspondem-
1 Journal Asiatique, IV serie, vol. 19, páj. 31, ap. Liebrecht ut s.
^ Veja-se A. Hovelacque, Le chien dans l' Avesta. Les soins quilui
sont dus. Soii éloge. Spiegel, Eranische Alterthumskunde, vol. III, páj.
657 segs. Veja-se Avesta, principalmente Fargarde XV. Monsenhor Ch.
de Harlez, na Introdução da 2)rimoi'Osa tradução do Avesta, o livro
sagrado dos Zoroastreus, ed. de 1881, páj. CL, diz : «Le chien occupe
dans les lois mazdéennes une place des plus importantes. Son ca-
davre, an point de vue des souillures, est traité comme celui de
Fhomme; il est défendu de le maltraiter tout comme Thomme et
les peines qui frappent Thoríiicide ne sont pas plus grandes que
celles prononcées contre le meurtrier d'un chien de garde». A esti-
ma 8 mesmo veneração por este animal distinguem os Eranios dos
seus vizinhos ocidentais e de todos os outros povos indo-celtas.
^ Em sámscrito o vocábulo sarvara ou sabala (e ainda
karbara, karvara, karbura, karvura) significa «mosquea-
do» e diz-se dos cães de lama. Está demonstrado que o vocábulo
é o mesmo que o grego /isoScpo;. F. Benfey, Védica und Verwandtes^
149-164, e Hermes, Minos, Tártaros, % 4. M. Bréal, Hercule et Cacus,
121, 130; Weber, Indische Studien, II, 298, e Indische Streifen,
10
-lhe ainda os cães guardas da ponte Chinuate dos Parses,
que só dá passajem aos justos, e donde caem no ínfimo
Duzaque os maus^.
ludixtíra, o mais velho dos cinco Pándavas, os heróis da
extraordinária epopeia samscrítica, o Mahabárata, recusa
a Indra a oferta do seu carro divino, e não quere nele
subir para o suarga sem ali entrar cora o seu cão. ^ E com
efeito com ele subiu ao paraíso de Indra, como a lenda
conta do animal favorito de Santo Antão.
II, 229 segs. Terem estes dois cães, cada um, cuatro olhos, katur-
aksa(X, 14,10), explica-se como se veda nota imediata, por terem
as malhas amarelas por cima dos olhos.
1 James Dasmesteter, The Zend-Avesta (vol. IV dos Sacred Books
of tlie East)^ páj. LXXXVII, diz: «The identity of the Parsi with
Kerberos and Yama's dogs appears, moreover, from the Parsi tra-
dition that the yellow-eared dog watches at the head of the ATinvaí
bridge, which leads from this to the next world, and with his bark-
ing drives away the fiend from the souls of the holy ones, lest be
should drag thera to hell.
2 Benfey, Hermes^ etc, páj. 9. Veja-se o episodio em Ph.Ed. Fou-
caux, Le Mahãbhãraía. Onze épisodts tires de ce pohme», páj. 407
e segs.
I
II
Orijem do nome de Ceilão
Há lendas de populações descendentes do ajuntamento
bestial duma fera com individuo de natureza humana, cujo
valor mitolójico pode servir de guia para o conhecimento
histórico da orijem dessas populações.
Neste caso está a lenda que explica o nome de Ceilão
dado à antiga ilha de Tamra, Tãmra-dvTpa ou Tãmra-
-parna, contada pelos autores budistas quer na sua língua
sagrada, o páli, quer em sámscrito, ou em chinês.
Veremos logo estas lendas ; digamos agora como Ceilão
significa «país, terra ou residência ou reino dos leões».
Em dois dos mais antigos textos clássicos em sámscrito,
no Mahabárata e no Ramáiana, encontramos o vocábulo
Lankã designando a capital dos ferozes Ráxasas, cujo
rei é, segundo o Ramáiana, o terrível Rávana. Outro nome
também antícuissimo é o que se encontra no Harívamsa,
ratna-dvipa «ilha das cousas preciosas» e que bem tra-
duziram os Chineses pe'lo vocábulo P'ao-tchu *.
^ Stanislas Julien, Voyages des Pélerins houddhiques , III, 125,
Cunningham, Ancient Geography of índia, páj. 557. V. adeante páj. 31-
12
Hiuan-Tsam*, no 7.° século, ainda emprega, todavia, o
nome de Ling-kia do sámscrito Lankã, mas para designar
apenas uma alta montanha habitada por espíritos malfa-
zejos ^ no ângulo sueste do reino de 8eng-kia-lo, em sáms-
crito Síhala «país dos leões».
No 6.° século, Cosmas, o navegador ejipcio nos mares
da índia — Indicopleustes, denomina a ilha de Ceilão, na sua
«Topographia Christiana», Sielediha; e um dos nomes mais
conhecidos pelos navegadores e comerciantes foi com efeito
o de SerendivuSj^ Singal-dib^ ou Sirindih ou Serendih^.
Estas denominações são derivadas do vocábulo páli si-
hala-dipo cuja forma samscrítica é síhala-dvipa «ilha
dos SímlicãasD a ilha de Ceilão. O vocábulo dvipa «ilha»,
dipo em páli, transformou-se na. linguajem dos Árabes
em dyvah^ aldyhah, como ainda se vê em um documento
português do século xvi, bem que Fr. João de Sousa
transcreva adiha^.
A Europa tinha chegado já antes dos Árabes o vocábulo
síhala-dvipa, porque Ptolomeu usa do adjectivo salikê
designando todos os habitantes de Sálai. Lassen^ identi-
^ Bem que deixe aos vocábulos chins a transcrição usada pe'lo
sinólogo cuja obra cito, escrevo à portuguesa os nomes próprios como
este do célebre peregrino ; sigo nisto a nossa tradição e praxe, tão
estimada que já mesmo estranhos disseram que melhor avisados
transcrevíamos por m final o que Franceses e outros transcrevem
por ng. Semelhantemente se entenda dos vocábulos que não forem
de lingua árica; e destes, que os reduzo a forma concordante com a
ortografia deste escrito, cuando os cito acomodados ao falar português.
2 St. Julien, op. cit., III, 144. Sénart, Essai sur la Legende du
Buddha, 231 e segs.
' Ammiano, XXII, vii.
'* Abu Rihán, apud Cunningham, op. cit.^ páj. 558.
5 Chaines des Chroniqves, páj. 5, n.° 7, e passim, in Relations
des Voyages faites par les Árabes et les Persans dans Vinde et a la
Chine dans le IX^ siecle», trad. de Reinaud, 1845. Cf. adeante i)áj. 74.
6 Documentos arábicos para a historia poriíigueza, Lisboa, 1790,
páj. 107 e segs.
T hidische Alterthumskunde, 2.^ ed., I, 241 n.
1
13
fica este nome dado pe'lo jeógrafo grego a uma forma
abreviada em páli s Ih a la, significando: — (í Residência
dos Simhas, não dos verdadeiros leões, mas dos guerreiros
que para ali emigraram com Vijaia», o conquistador indio
a quem se atribui a civilização búdica de Ceilão.
Mas confirmando a lenda ^ que nos diz ter sido a ilha
anteriormente denominada Tãmra-parna, ou em páli
Tamba-panni, tinha chegado ao conhecimento de One-
sícrito esta denominação anterior à de Sedai, e assim era
no ocidente desde Alexandre,
A nobre ilha também de Taprobana,
Já pelo nome antigo tam famosa
L. X, foi. 169.
Do nome dos Simhalas deu-se em páli à ilha o de Sl-
halã, cuja forma vulgar Sllã^ deu orijem às formas 8ai-
lán usada pe'lo Persa Raxid-Eddin contemporâneo de Marco
Polo, e à usada pe'lo mesmo Polo, Seilan, bem como à
nossa, Ceilão.
E notável ter Camões identificado ^ os dois nomes Cei-
lão e Taprobana^ porque em 1537, por equívoco resultado
de má interpretação da jeografía de Ptolomeu pe'la escola
de Behaim '••, por Taprobana se entende a ilha de Çamatra.
Em 1559, Jomard, confunde ainda ambos os nomes de
Çamatra e Taprobana, separando-se tanto nos mapas deste
jeógrafo de Henrique II, como no magnífico portulano de
1 Vid. páj. 17 6 seguintes.
2 Childers, op. cit.^ s. v. Cf. páj. 17 n. 2,
^ Camões diz positivamente :
Taprobana
(Que ora he Ceylâo)
L. X, estancia 107.
e nisto faz ver que o nome de Ceilão é posterior ao de Taprobana,
•í Richthofen, China, I, 640 e segs.
14
Carlos VI, * desta suposta Taprobana, a ilha de Ceilão cujo
logar se marca com verdade.
O nome de Ta-prohana, ou em sámscrito T ã m r a - p a r n a,
é como veremos um dos nomes indios mais antigos que
se conhecem dados à ilha de Ceilão^. O nome de Lankã
parece ser aquele com que a conheceram já os primeiros
Árias que da índia para ali foram. Parece mesmo fora de
dúvida que a ilha do Ceilào foi conhecida em remota anti-
guidade anterior à conquista árica. E provável até que os
marinheiros, enviados pelos Cuxitas e pe'los Sabeus a
buscarem as preciosidades do Oriente para os seus empó-
rios, tivessem aportado a Ceilão, e estabelecido ali uma das
suas estações ^.
Dos Símhalas fala já o Mahabárata como habitantes da
ilha ao sul da índia ^.
Chiíders^ diz que os Símhalas^ ou como hoje dizemos os
Singaleses^ são «unicamente os habitantes áricos de Ceilão,
descendentes do povo emigrado de Lala^ em Magadá, na,
1 Em poder do sr. Frederico Spitzer, cin Paris — Bichihofen.
^ Quem primeiro demonstrou ser Taprobánt a forma grega da
samscrítica foi Eujenio Burnouf em 1834. A memoria por ele então
lida perante a Academia das Inscr. e B. Letras em Paris anda pu-
blicada no Journal Asiatiqtie, janeiro 1851. Não pude lê-la porque
falta todo este ano na Bibl. da nossa Academia, e nunca me veiu
à posse exemplar do folheto separata.
^ A ter o verdadeiro valor liistórico a concha de madrepérola
comprada pelo sr. Sayce no Ejipto, poder-se-ia datar do tempo da
12.' dinastia, e portanto cerca de 2400 anos antes de Cristo, o co-
nhecimento das pérolas ceilonenses no Ejipto. (F. Terrien de Lacou-
perie in Tlie Bahylonian & Oriental Recorcl, julho 1892, páj. 11 e
nota 415 ibi. V. mais a nota 4 neste opúsculo a páj. 18). Acerca
do comercio e navegação na mais remota antiguidade cito ao leitor
curioso apenas três obras de grande valor : Lieblein, Handel und
Schiffart auf dem rotken Meere in alten Zeiten, Runbury, History of
Ancient Geograpliy, Miss. Amélia Edwards, Pharaohs, Fellahs and
Explorers.
^ Sa7ishrif Wcerferhnch, s. v.
^ Páli Dictionary, s. v.
15
índia, e para ali idos muitos séculos antes da nossa era».
A capital de Lala, a Larikê dos Gregos, era Síha-pura
«a cidade dos Leões»'.
Assentados estes conhecimentos históricos, podemos dar
algumas lendas búdicas sobre a orijem da civilização árica
de Ceilão. Os elementos mitolójicos que nelas se encontram
são comuns a outras lendas na Europa pe'lo que é de inte-
resse científico fazê-las conhecer.
^ Lassen, Indsch. Altrtmsk, I., 105. Cf. infra a lenda que traduzi
do Dipavamsa, IX, ed. de Oldenberg.
III
Conquista da ilha de Lancá e fundação do novo reino Singalês
ou dos Leões ^
1 . Esta ilha de Lancá chamou-se depois Sihalá^ (s i h a 1 ã)
do nome de si ha (leão). Escutai, pois, vós, a narração da
Bua orijem, que eu vou contá-la.
2. A filha do rei de Vanga coabitou na floresta com
um leão das selvas, em consecuencia do quê nasceram dois
filhos.
3. Eram duas crianças formosíssimas Sihabáhu e SivalP;
tinha a mãe nome Susimá* e chamava-se o pai Siha.
4. Passadas dezaseis estações das chuvas abalou da ca-
verna, e fundou a nobilíssima cidade de Sihapura^,
5. o filho de Siha; e poderoso rei no país de Lala^ go-
vernou o grande reino na nobilíssima cidade de /Sihapura.
^ Segundo o capítulo IX da crónica páli Dipavamsa, edição de
Oldenberg, 1879.
2 Ou Sihalào (Sihalã). Escrevo em itálico unicamente os no-
mes que interessam directamente a lenda dos homens-leões, ou para
os cuais deva chamar a atenção do leitor.
' Veja-se páj. 27.
* «A perigrina beleza».
'sihapura «cidade de siha, i. e., do leão».
18
6. Trinta e dois irmãos foram a projenie do filho de
Siha) e destes os mais velhos foram Vijaia e Sumita'^^ ambos
de extraordinária beleza.
7. O jóven príncipe Vijaia foi audacioso e sem instru-
ção, e praticou actos da maior perversidade e inexcedíveis
extorsões.
8. Reuniram-sc os homens do tráfico e todos os do país,
e foram qucixar-se ao rei dos crimes de Vijaia.
9. Ao owxiv as suas vozes clamorosas, o rei, tomado de
cólera, ordenou aos ministros: «Expulsai ôsse mancebo;
10. e todas essas escravas, mulheres e filhos, e paren-
tes, e servidores de ambos os sexos, e artífices ; expul-
se-se toda essa jente.»
11. Então o expulsaram separando-o de todos os paren-
tes, e meteram-nos a bordo dum navio e o navio singrou
pè'lo mar fora. i
12. «Que vão para onde' os levo o seu desejo, e todos
para mais não serem vistos, nem voltarem a morar em
nosso reino, entre este povo.»
13. O navio das crianças abordou sem governo- a uma
ilha, à cual se deu o nome de Nagadipa^.
14. E sem governo abordou o navio das mulheres, a
uma ilha a que se chamou Mahilãr attha («reino das
mulheres»).
lõ. O navio dos homens correndo sem destino pe'lo
mar, perdido e sem rumo, foi dar ao porto de Siijpara'*.
í Vi gaja «vitoria, triunfo». Cf, Victor. Sumitta em ser. sumi-
tra «bom amigo», Cf. dummitta, ser. dur mitra <imau amigo», no
Dipav., XXII, 70, 71.
2 No texto lê-se avassakà que Oldenberg traduziu «helplessly»
e eu traduzo «sem governo»; morfolójicameute o vocábulo é em ser.
avasjaka.
3 Naggadipa = Nagnadvipa em sámscrito? «Ilha dos mis»?
ou Nãgadvipa?
4 O Editor do Indian Anticfiary, anotou neste ponto a tradução do
sr. Donald Ferguson do seguinte modo: — «See Inã. Ant. vol. XI,
pp. 236, 247, 293, 294. It is evident from the meution of Bhâruka-
19
16. E como desembarcassem em Supara setecentos, fize-
ram-lhes então os Supáracas largo acolhimento e muitas
honras.
17. Ao passo que assim eram recebidos, Vijaia e a sua
cohorte, todos esses estranjeiros, praticaram cruéis feitos,
18. tais a embriaguez, o roubo, o adultério, a traição,
a aleivosía e o mais vil, imoral e horrível modo de proceder.
19. Irritaram-se os Supáracas com estes horrores de
inexcedível crueldade e bárbara selvajaria, e resolveram:
«Vamos depressa matar estes perversos».
20 Foi outr'ora Ojadipa, Varadipa, ouMandadipa, e tam-
bém denominada Lancadipa, a que se conhece por Tam-
bapáni *.
chchha (Bharuch) (V. 26) along with Suppâra, that the Dipavamsa
places Lala on tlie west coast of índia or in Gujarat, and the Siih-
hapura stated to be the capital may be Síhor in KâthiíWâd, about
18 miles south of the site of Valabhi, and the traditional capital of
the Simha dynasty.» A isto devo acrescentar que Supara (Suppara)
é um dos nomes de porto marítimo mais interessantes para a historia
da antiga navegação ejipcia e das relações do Ejipto com a índia.
O snr. Dr. Tcrrien de Lacouperie (in The Babylonian & Oriental
Eecor d, julho, 1892, páj. 11) depois de dizer que é possível que o
comercio do Egipto com Ceilão existisse já ao tempo da XII. " dinas-
tia, acrescenta: «This sea trade was certainly active in the seven-
teenth century, as shown by the Indian products and later on they
seem to have established colonies on the ludian coast, which they
probably denomiuated by names which recall tomind those of their
trading places westwards.» E em nota (417) dá exemplos destes
nomes: «Muziris (mod. Cranganore) on the Malabar coast, and
Muza, their own emporium in the Red Sea, or perhaps better, Mitzir,
Egypt. — Suppara (mod. "W asai, North of Bombay), and Zafar, in
Yemen, Zabara in the Persian gulf, Sofala on the African coast,
ali probably colonies from Zafar, the Safar of Gen. X, 30.»
i Em páli Tãmbapanni, como fica dito atrás.
20
21. Naquele tempo em que Samhuãa^ o melhor dos
homens, chegou ao Parinibana *^ esse filho de /Sihabáhu,
o Catita'^, Vijaia^
22. chegou a Lancadipa, depois de ter partido da terra
de Jambudipa ^. Tinha o excelleute Buda profetizado : « O
príncipe será o rei (de Lancá)».
23. Então o Mestre * disse a Saca ^, o Senhor dos Deu-
ses: «não afastes o teu cuidado, Cossiia^^ de Lancadipa».
24. Sujámpati, o rei dos deuses, depois de ouvir esta
deprecação de Sambuda encarregou Upalavana^ de pro-
tejer a ilha.
25. Ouvindo a ordem de Saca, o poderoso Devaputa'
com os Parisas^ foi protejer a ilha de Lancá.
^ Era páli parinibbãna = se. pari - uirvãna. Usa-se
deste termo para designar a morte do sábio, de Buda, ou de um
Arhat «asceta e santo Budista». Neste logar é de Sambudha do
«Sábio por excnlencia», aquele de quem propriamente dizemos
Buda, Gáutama o Buda.
~ Khattija, ser. ksatrija, «xatria, guerreiro, principe».
3 Em ser. gambudvipa «o Sontinente dos jambus (Eugenia
Jambolana)», um dos nomes da índia, considerada como uma das 7
duípas em roda do Monte Méru.
^ Epíteto de Gáutama o Buda.
5 Em páli sakka = se. sakra «poderoso», epíteto de Indra.
6 K o s i j a em páli = K a u s i k a em se. epíteto de Indra.
'' D e V a p u t r a em se. e em páli D e va p u 1 1 a. Aos habitantes
do Deva-loka «paraíso •> se atribuem os sexos masculino e fe-
minino. Devaputra é um ente celestial do sexo masculino. Aqui é
Uppalavanna, i. e. Víxnu, deus na relijiâo brahmánica, arcanjo
na relijiâo búdica. Há o arcanjo do sexo feminino (devadhitã)
cujo nome é fácil de confundir com Uppalavanna, é Uppal-
vanná, name ofan eminent mm who was one of Gautama's aggasávikás
(Db. 213), diz Childers, s. v. u p p a 1 ã, citando o D h a mm a -p a d a,
de Fausboel. Podemos citar mais a crónica, de que vamos tradu-
zindo, Dipavãsa XVII. 9, e Vinajapitaka, Kullavagga, X,
8. Aggasãvikã em sámscrito agrasrãvikã «principal discí-
pula», de Buda, como as Marias do Nazareno. As duas de Gáutama
foram Khemã e Uppalavanna, além de outras secundarias.
8 Anjos sob o comando de um arcanjo.
21
26. Depois de ter estacionado em Barucacha * e exaspe-
perado os habitantes, Vijaia, voltou para o navio.
27. Entrado que foi com a sua cohorte a bordo, fize-
ram-se ao mar, e logo um vento furioso lhes fez perder
de vista as costas.
28. Arribaram a Lancadipa, onde desembarcaram, e
foram para terra. Mas em terra firme sentiram-se exaus-
tos de fome, de sede e de cansaço ; mal podiam andar.
29. Foram de gatinhas, com pés e mãos, e nestes entre-
mentes levantaram-se e puseram-se de pé e viram as mãos^
resplandecentes.
30. O pó excessivamente vermelho daquela terra cobri-
ra-lhes os braços e as mãos ; e disto provém chamar-se
aquele sitio Tambapanni 2.
31. A primeira cidade na afamada Lancadipa foi Tam-
hapáni; e ali residente governou Vijaia o seu reino.
32. Vijaia e Vijita e com eles Anuradanacata, Achuta-
gámi e Upatissa foram os primeiros que vieram a estas
terras ^.
33. Acorreu grande multidão de homens e mulheres, e
um Catiia (xatria) levantou «idades aqui, outro acolá em
todo o país.
34. Vijaia levantou a cidade de Tambapáni, com suas
vizinhanças, na marjem sul do rio no logar mais aprazível.
35. Vijita levantou a cidade a que deu seu nome, e ainda
a de Uruvela; e o ministro, que do asterismo Anurada tira
o nome, fundou a cidade de Anurada.
36. Aquele cujo nome fui Achidagámi fundou Ujeni,
Upatissa a Upatissa cidade de belas praças, opulenta,
vasta, de grande prosperidade e deleitosa.
1 Veja-se nota 4 páj. 18-19.
2 Pãni em páli e em sámscrito; note-se a etimolojía popular,
tirada deste vocábulo para Tambapanui, que e.screvemos aportu-
guesadamente Tambapáni nome da ilha de Taprobana, como fica dito.
Cf. Oldenberg, páj. 56 com páj. 162.
22
37. Foi o primeiro rei da famosa Lancadipa o rei Vijaia
em Tambapáni.
38- Passados sete anos do seu reinado tinlia jiara ali
ido muita jente. O seu reinado foi de trinta e oito anos.
39. Em o nono mês de Sambuda os lacas íicaram des-
truídos ; em o quinto ano de Sambuda o Jina * venceu os
Nagas'^; no oitavo ano de Sambuda completou-se a Samã-
ppati^.
40. Em todas estas três ocasiões Tatágata'^ veiu aqui.
No último ano de Sambuda^ Vijaia veiu aqui.
1 É aqui Buda.
'^ I. e., consolidou-se o budismo.
3 Samãpatti é um estado de ascetismo búdico. Childers, Dic.
páli, s. V. explica: «attainments, endowments, which are eight suc-
cessive states induced by the ecstatic meditation.» A explicação
de Burnouf (Z/Ofws de la bonne loi, páj. 348-9) parece-me exacta:
A samã-patti é o estado moral a que se chega pela s a ra ã d h i ;
samãdhi é uma das condições pai'a ser-se asceta perfeito, é uma
das perfeições desse asceta; e estai perfeições são — g hãna «a medi-
tação pi'ofunda», vimokha «o libertamente, desjn-endimento da
paixão», samãdhi «traueuilidade perfeita», samãpatti «o doce
gozo, a suave delicia, a ventura calma e santo resultado das perfei-
ções superiores». É o aniquilamento de toda dor e de todo prazer de
toda sensação física e o embebecimento extático na contemplação
indiferente ao mundo exterior. — Os oito estados sucessivos são
como que passajens, graus de aquisição progressiva de cada uma
daquelas perfeições. Veja^se em Burnouf, Lotus, páj. 789.
'» "Gautama Buda frequently in the Suttas speaks of himself as
the Tathágata, and the epithet is analogous to tliat of Son of Man
applied to himself by Jesus Christi». Childers, Pali Dict., s. v. Mas
quere-me parecer que este nome de Tathãgata, composto de
Tathã-ãgatha «vindo assim (como os outi'Os Budas)», significa
«um redentor». — Dois anos depois de eu haver escrito esta nota li
a páj. 84, n. 3, do tomo v da Revue de VHistoire des Beligions, num
artigo do snr. Kern, o seguinte : Tathãgata est manifestement un
synonyme de sougata ; tathâ a ici le même sens que tathya, yathâ-
tathã, vitatha, parfait, ne péchaut pas, et so)i signifie bon. L'un et
Tautre peut se traduire par habile, brave, vertueux, de sorte que
23
41. Sambudãj, o melhor dos homens, tornou a ilha de
Lancá própria ^ara habitação de homens ; e pe'la a n u -
pãdisesã''^ extinguiu-se em todos os seus úpadis (u p a-
dhi)^
42. O Catiia reinou trinta e oito anos depois do Pari-
nihána de Samhiida, o Senhor fulgurante da verdade;
43. e enviou a Sihapura um mensajeiro a Surnita:
«Vinde breve para nós para esta magnílica Lancadipa.
44. Não há quem me suceda na governação depois da
minha morte; cedo a vosso favor esta ilha que por meu
valor conquistei».
Fon peut reudre Tathâgata et Sougata par impeccable, qui ne faillit
jamais.»
Tathâgata é com efeito aquele que «ficou isento de paixão,
apagou o pecado, e se eximiu à tentação». Assim pois, ou o vocá-
bulo se explique por uma forma ou por outra (que ambas conveem),
Tatãgata é pe'lo ensinamento, um redentor.
■* Aniquilamento completo pe'la perda dos cinco elementos do ser.
ã Suhstrata corporis, i. e., entrou em o Nibbãna (Nirvana
em sámscrito) completo, ou P a r i n i b b ã n a .
IV
o príncipe Simhala salvo pe'lo cavalo májico *
Simhala, fils du marchand Simlia, s'étant embarque pour
aller à la recherche des pierres précieuses dans une íle
eloignée, est assailli en approchant de Tâmradvipa (la
même que Tâmraparria, la Taprobane des anciens), par
une tempête que soulèvent les Râkchasis, Divinités mal-
faisantes qui habitent cette ile. II fait naufrage avec ses
compagnons, et parvient en nageant jusqu'au rivage, ou
paraissent les Râkeliasis qui sous la figure de belles fem-
mes entrainent les marchands à se livrer au plaisir avec
elles. Simhala, après avoir passe la nuit dans les bras
d'une de ces femmes, apprend de la lampe qui les éclaire,
qu'il est tombe entre les mains d'une ogresse dont il sert
les plaisirs et qui doit le dévorer. II est averti que d'autres
marchands naufragés comme lui ont été, depuis son arrivée,
jetés dans une prison d'oíi les Râkchasis les tirent chaque
jour pour se repaitre de leur chair. Instruit par les révé-
lations de la lampe, il se rend avec ses compagnons sur le
rivage, oii lui apparait un cheval miraculeux qui doit le
^ Lenda búdica àcêrca da orijem do nome de Ceilão. Redacção
sucinta de Landresse, tirada do texto de Hiuan-Tsam, apud Burnouf,
Introduction à VHistoire du Bnddhisme, 1." ed., páj. 223 e segs. Cf.
neste opúsculo páj. 35 e segs.
26
transportei' hors de File. Mais il faut qiril se garde de
retourner la tête en arrière; celui qui se laissant toucher
par les larmes des Râkchasis, jettera un seul regard sur le
rivage, est condamné à tomber dans Tocéan, ou Tattendent
les ogresses pour le mettre à inort. Les compagnons de
Simhala consentent de grand coeur à quitter l'ile avec lui;
mais infidèles à leurs promesses, ils prêtent Toreille aux
plaiiites des femmes qu'ils abandonneut, et disparaisent
Tun après Tautre, devores par les Râkchasis. Simhala seul
échappe ; et malgré les poiírsuites de la femrae qu'il a
laissée dans rile, le cheval merveilleux le transporte dans
rinde.
La Rakchasi aux mains de laquelle Simhala vient d'échap-
per, séduit le roi Simhakêçarin, et penetre dans ses appar-
tements intérieurs. Secondée par les autres démons qu'elle
appelle de Tile Tâmradvípa, elle devore le roi et sa fa-
mille. Simhala, qui seul sait expliquer ce desastre, est
proclame roi; et il prend la résolution d'aller anéantir les
Râkchasis de File, pour y répandre le culte desTrois objecta
précieux. Les demons se retirent dans une forêt ; et à par-
tir de cet événement, le pays nommé autrefois Tâmradvípa
prend le nom de Simhaladvipa.
Completa-se esta lenda com a segiiinte pe*la cual sabe-
mos a orijem dos Simhalas.
Orijem do reino de Simha (Leão) segundo o Mahavamsa *
Era unia vez um rei que governava em Banganágara
na terra dos Bangas, e cuja mulher era filha do rei de
Calinga. Tinham eles uma filha mui formosa que um dia,
andando a passear sozinha, encontrou uma caravana, que
seguia viajem para Magadá, e a acompanhou incógnita.
Chegados à terra de Lala foram os viajantes separados uns
dos outros por um leão.
A filha do rei, lembrando-se estar-lhe profetizado que
ela havia de coabitar com um rei dos animais, acariciou
o leão, e este levou-a para a caverna, e ali nasceram dam-
hos um filho com pés e mãos de leão e uma filha. A mãe
então deu-lhes os nomes de Simhabáhu «braços de leão»
e Simhavali «vergontea de leão».
Quando o filho completou dezaseis anos contou-lhe a
mãe a sua orijem; e ele aproveitando-se da ausência do
leão tomou a mãe e irmã às costas, e levou-as para uma
aldeia vizinha onde Anura, filho de um seu tio materno,
comandante em chefe dos exércitos de Banga, estava en-
carregado de vijiar os trabalhos dos habitantes da aldeia.
^ Lassen, Indische Alterthumskunde, 2.' ed., vol. II, páj. 103 e segs.
Cf. neste opúsculo páj. 31 e segs.
28
Kecebeu-os o tio em casa, e vestiu-os, e dcu-lhes de
comer em folhas de árvores. Os vestidos tornaram-se logo
de riquíssimos tecidos, e as folhas mudaram-se em vasos
de ouro. Estupefacto deante de tais maravilhas perguntou
aos hóspedes de que estirpe eram descendentes, o que a
mãe logo lhe contou. Levou-os ele então para a capital de
Banga e tomou a menina para sua mulher.
Quando o leão voltou à caverna, procurou os filhos, e
como os não achasse entrou pe'las aldeias afiijentando os
moradores. Estes foram queixar-se ao rei fazendo-lhe
ver o perigo que corriam. Como ò rei não encontrasse
ninguém capaz de agarrar o leão, por duas vezes ordenou
que se desse recompensa mais subida a quem lhe desse
caça. Duas vezes a mãe de Simhabâhu prohibiu a este que
se envolvesse no negocio ; mas, à terceira, Simhabâhu ofe-
receu-se, sem pedir primeiro o consentimento à mãe, e o rei
prometeu dar-lhe o reino se ele conseguisse prender o leão.
Simhabâhu foi então procurar o leão na caverna, atra-
vessou-o com uma frecha e voltou para a capital do reino
com a cabeça da fera. O rei tinha morrido, sem sucessão,
havia sete dias. Os ministros, conhecedores de que ele era
neto do rei e sua mãe a filha, e maravilhados por tal feito,
reuniram-se em conselho, e unânimes solicitaram-lhe que
fosse ele o rei ; Simhabâhu aceitou o reinado, mas cedeu
o reino ao que fosse marido de sua mãe, e regressou com
a irmã ao país natal. Ali fundou, no reino de Lala, a ci-
dade de Simhapura e aldeias pe'los descampados, e casou-se
com a irmã. Esta teve dezaseis vezes filhos jemeos, dos
cuais Vijaia foi o mais velho e o segundo Swnitra, e ao
mais velho nomeou o pai, cuando ele chegou à idade com-
petente, uparaja («príncipe herdeiro»).
Esta lenda tem evidentemente analojía muito notável
com a de Édipo.
29
A lenda de Simhabáhii foi também conhecida pe'io Pe-
regrino chinês. Hiuan-Tsam * relata-a no livro XI cuando
trata do Reino de Seng-Kia-Lo (transcr. de Stanislas
Julien), i. e., de Si h ala.
Aqui reproduzimos essa lenda e por inteiro a lenda dos
Raxasis e do cavalo-májico, em linguajem francesa pe'Ia
autoridade do grande sinólogo. ♦
1 Mémoires sur les Contrées Occidentales, traduits du sanscrit ea
chinois, en Tan 648 par Hiouen-Thsang et du chinois en français
par M. Stanislas Julien, TI, 1"25-140.
VI
Origem do reino de Simhala
A lenda das Raxasis e do Cavalo- májico segundo Hiuan-Tsam
Dans rorigine, ce royatime s'appelait P'ao-tchou *, parce
qu'on y trouvait beaucoup de clioses précieuses; des dé-
mons et des esprits y avaient fixe leur séjour.
Dans la suite des temps, il y eut un roi de Tlnde mé-
ridionale dont la filie avait été fianeée à un prince d'un
Etat voisin. Un jour lieureux, comme elle se rendait en
cortège, auprès de son époux, elle rencontra un lion au
milieu de la route. Les gens qui formaient son escorte
Fabandonnèrent pour écliapper au danger. Restée seule
sur son char, elle aurait été heureuse de quitter la vie.
En ce moment, le roi-lion prit la jeune filie sur son dos
et disparut. II s'enfonça dans les gorges des montagnes,
et se fixa dans de sombres vallées. II prenait des cerfs et
cueillaitdes fruits, et la nourrissait suivant les saisons. Après
un certain nombre de móis et d'années, elle mit au monde
un garçon et une filie. Pour le corps et la figure, ils res-
semblaient à des hommes ; mais ils avaient le naturel des
betes fauves. Le garçon grandit peu à peu ; il était telle-
* Le mot P'ao-tchou (Ratnadvipa) signifie «rile des choses pré-
cieuses». Les auteurs cliiiiois mentioniieiit le cristal de roclie, les
perles, etc. qu'on tirait de Ceilan.
32
ment fort, qu'il domptait les animaux féroces. A Tâge de
vingt ans, il se sentit tout à coup éclairé par rintelligence
humaine. II interrogea alors sa mère, et lui dit:
«Que suis-je? Mon père est une bete sauvage, et ma
mère est une femme! Puisque vous n'ótiez point de la
même espèce, comment avez-vous pu vous unir ensemble?»
La mère raconta alors à son fils son ancienne aventure.
«Les hommes et les animaux, dit le fils, ont des voies
diííérentes; il faut nous enfuir au plus vite.»
— « Je m'étais déjà enfuie, repartit la mère, mais je n'ai
pu subvenir seule à mes besoins.»
Depuis ce moment, le fils suivit le lion, son père ; il gra-
vissait des montagnes, franchissait de hauts sommets, et
observait ses courses et ses gites habitueis pour échapper
au danger.
Ayant épié un jour le départ de son père, il prit sur son
dos sa mère et sa soeur, descendit avec elles et courut dans
un village. «Mes enfants, dit la mère, il faut que chacun
de vous garde un profond secret ; ne divulguez point votre
origine, car si quelqu'un venait à Tapprendre, on nous re-
pousserait avec mépris.»
Là-dessus, elle se rendit dans le royaume de son père ;
mais ce royaume n'appartenait plus à sa famille, et les sa-
crifices de ses aneêtres étaient éteints. Elle se refugia alors
dans un village. Les habitants lui dirent: «De quel royau-
me êtes-vous?»
— «Je suis, dit-elle, originaire de ce royaume. Après
avoir longtemps erre dans des contrées étrangères, j'ai
voulu revenir avec mes enfants dans mon pays natal.»
Tous les hommes furent émus de pitié, et leur founii-
rent, tour à tour, de quoi subsister. Quand le roi-liou fut
revenu, il ne trouva plus personne. Pensant avec affection
à son fils et à sa filie, il se sentit transporto de colère et
de rage. II sortit aussitôt des montagnes et des vallées,
et parcourut, en tous sens, les bourgs et les villages. Pous-
sant d'aífreux rugissements, il se dóchaínait avec fureur sur
les hommes et immolait les créatures vi vantes. Les habi-
tants des villages sortirent tout à coup pour le prendre et
le tuer. S'armant d'arcs et de javelots, ils se réunirent en
troupe, au bruit du tambour et des conques marines, alin
d'échapper au danger qui les menaçait. Le roi oraignit que
rinfluence de son hunianité iie fút pas assez répandue. II
organisa alors une grande cliasse pour prendre le lion. II
se mit lui-même à la tête des quatre corps d'armée. Ses
troupes, qui se comptaient par dizaines de mille, investi-
rent les bois et les jongles, et franchirent les montagnes
et les vallées.
Conime le lion poussait d'affreux rugissements, les hom-
mes et les animaux ^ s'enfuirent épouvantés.
Le monstre n'ayant pu être pris, le roi fit aussitôt un
nouvel appel au peuple, promettant à celui qui capturerait
le lion et délivrerait son royaume de ce íléau, de le com-
bler de recompenses, et de signaler avoc éclat cet exploit
glorieux.
Dès que le fils du lion eut entendu proclamer ce décret
du roi, il parla ainsi à sa mère: «Nous souíFrons trop de
la faim et du froid ; il faut que je reponde à Fappel du
souverain; peut-être obtiendrai-je de quoi vous soulager
et vous nourrir.»
— «Ne parlez pas ainsi, repartit sa mère ; quoique ce-
lui-là soit un animal, cependant c'est votre père. Pour-
riez-vous, à cause de la misère qui nous accable, lever
contre lui un bras dénaturé?
— «Les hommes et les animaux, répondit de fils, sont
d'une espèce différente : ou est Tobligation d'observer ici
la justice et les rites? Puisque j'y vois un empêchement
absolu, que pourrais-je espérer de ces beaux sentiments?»
A ces mots, il cacha dans sa manche un poignard, et
sortit pour aller répondre à Fappel du roi. Dans ce mot
ment, mille soldats et dix mille cavaliers étaient rassem-
^ Os cavalos e os elefantes de que se compuuha o exércit-;
do rei.
34
blés en foule ^ Le lioD était accroupi au milieu de la forêt,
et personnc n'osait rapproelier. Le fils s'étaiit avance en
face de son père, celui-ci s'adoucit aussitôt et se couelia,
et, par un sentiment d'aíFection profonde, il oublia toute
sa fureur. Le fils lui plongea alors son poignard dans le
coeur; mais il conserva encore la même tendresse, et ne
montra ni haine ni colère ; et quand son ventre eut été ou-
vert, il expira au milieu des plus cruelles souíFrances.
Le roi s'écria: «Quel est cet homme, qui fait des cho-
ses si extraordinaires?»
Séduit par des premesses de fortune et ébranlé par la
crainte du malheur, il raconta son histoire de point en
point, et exposa la vérité dans tous ses détails.
«Quelle eonduite impie! s'écria le roi. S'il a osé tuer
son père, à plus forte raison (tuerait-il) des étrangers^.
Les animaux sauvages sont difficiles à apprivoiser, et leurs
instmcts féroces se réveillent aisément. En arrachant mon
peuple à la mort, il a certainement rendu un grand ser-
vice ; mais, en trancliant les jours de son père, il a com-
mis une odieuse rébellion. Je lui accorderai une grande
recompense pour payer ses exploits, et je Texilerai au
loin pour punir son crime. Alors les lois du royaume ne
seront point violées, et le roi n'aura pas manque à sa
parole.»
Là-dessus, il fit équiper deux grands vaisseaux, ou Ton
embarqua une quantité de vivres. La mère resta dans le
royaume et Fon pourvut à tous ses besoins, pour recom-
pense du service rendu. Le fils et la filie montèrent cha-
cun sur un des navires, et s'abandonnèrent au gré des
flots. Le vaisseau du fils, après avoir vogue quelque temps,
aborda dans cette íle de P'ao-tchou. Voyant qu'elle abon-
1 Littéralement : étaient rassemblés comme des nuages, reunis
comme des vapeurs.
2 En chinois, — pairem ipsum occidit, multo magis non-consan-
guineos.
35
dait en pierres précieuses *, il prit le parti de s'y établir.
Dans la suite, des marchands revinrent dans cette ile pour
recueillir des pierres précieuses. II tua le clief des mar-
chands, et retint leurs fiis et leurs filies. Ce fut de cette
façon qu'il niultiplia se race. Sa postérité étant devenue
fort nombreuse, le peuple nomma un prince et des minis-
tres pour gouverner les hommes d'un ordre supérieur et
des classes infimes. Le roi fonda une capitale, fit bâtir des
villes, et se rendit maitre de tout le territoire. Comme le
premier auteur de sa famille avait pris un lion, il donna à
son royaume un nom dérivé de cet ancien exploit^.
Le vaisseau qui portait la jeune filie aborda à Touest
de Po-la-sse «la Perse». Ayant eu commerce avec des es-
pritB et des demons, elle mit au monde un grand nombre
de filies ; de là vient le nom actuei de royaume des femmes
d'Occident. Cest pourquoi les hommes du royaume du lion
sont de petite taille et de couleur noire. lis ont le menton
carré et le front_large; leur caractere est farouche, et ils
se livrent de sang-froid aux actes les plus cruel. Ces hom-
mes descendent pareillement d'une bete féroce ; aussi sont-
ils la plupart forts et courageux. Telle est du moins Tune
des opinions recues.
Voici ce que rapportent les mémoires bouddhiques ^.
«Jadis cette ile de P'ao-tchoii (Eatnadvipa) était habitée
' II y a, en chinois, Tchin-yu «du jade précieux», dans le genre
du jade nuancé de blanc et de noir qu'on tirait du pays de Lan-
thien (Pe'i-u-en-ynn-fou, liv. XCI, foi. 33). Mais comme les auteurs
chinois citent particulièrement le cristal (Choui-tchangJ et les pier-
res précieuses (P'ao-ch{J de Ceylan, je crois qu'il vaut mieux em-
ployer ici le terme general àe pierres précieuses.
2 II Tappela Sinhala, non forme de Sinha «lion» et de lâ «pren-
dre»5 en chinois, Tchi-sse-tseu-loue «le royaume de celui qui a pris
un lion )) .
^ Littéralement : la loi du Bouddha rapporte, c'est-à-dire, voici
ce que rapportent, à ce sujet, les mémoires qui traitent de la loi du
Bouddha.
par cinq cents filies de Lo-ihsa * (des Râkchasis^, qui occu-
paient une grande ville construite en fer. Au sommet d'un
pavillon qui doininait les murs, elles avaient dressé deux
drapeaux d'une grande hauteur, pour signaler les événe-
ments heureux ou malheureux. Selon qu'ils étaient favo-
rables ou funestes, on voyait s'agiter le drapeau d'lieureux
ou de sinistre augure. Elles épiaient constamment les mar-
chands qui abordaient dans Tile de P'ao-tchou, et, se cban-
geant en femmes d'une grande beauté, elles venaient au-
devant d'eux avec des fleurs odorantes et au son des In-
struments de musique, leur adressaient des paroles bienveil-
lantes et les attiraient dans la ville de fer. Alors elles leur
cifrai ent un joyeux festin et se livraient au plaisir avec
eux ; puis elles les enfermaient dans une prison de fer et
les mangeaient Tun après Fautre.
«A cette époque, il y eut un grand clief de marchands
de rinde, nommé Seng-kia, dont le fils s'appelait Senç'
kia-lo (Sinhala). Son père étant devenu vieux, il dirígea,
à sa place, les aífaires de sa maison. Un jour, il s'embar-
qua avec cinq cents marchands pour aller recueillir des
pierres précieuses, et, poussé par les vents et les flots, il
arriva, par hasard, dans Tile de P'ao-tchou.
«En ce moment, les Râkchasts voyant s'agiter, dans le
lointain, le drapeau d'heureux augure, allèrent au-devant
d'eux avec des fleurs odorantes et des Instruments de mu-
sique, et les attirèrent dans la ville de fer. Le chef des
marchands j ayant rencontré la reine des RâkchasiSj se
livra avec elle à la joie et au plaisir. Les autres marchands
prirent chacun une compagne, et, au bout d'un an, ils eurent
tous un fils. Les Râkchasis s'étant dégoútées de leurs ma-
ris, voulurent les enfermer dans la prison de fer, et épiè-
rent encore d'autres marchands.
* Lo-thsa est la transcription de Bakchas, sorte de démon. i?â-
kchasi est le féminiu de Rakchas (Wilson).
«En ce moment, Seng-kia-lo (Sinhala) eut, la nuit, un
mauvais soiige, et, reconnaissant qu'il n'était pas d'heureux
augure, il chercha à s'en retourner. Etant arrivé, par ha-
sard, à la prison de fer, il entendit des cris lamentables. II
monta aussitôt sur un arbre élevé. «Qui est-ce qui vous
tient enehainés, demanda-t-il, et pourquoi poussez-vous ces
plaintes douloureuses?»
— «Vous ne savez donc pas, répondirent les marchands,
que les femmes qui liabitent cette ville sont toutes des
Eâkckasís? Jadis elles nous ont attirés dans Ia ville pour
y goúter le plaisir; mais, lorsque vous alliez arriver, elles
nous ont jetés dans une obscure prison, et nous dévorent
Tun après Tautre. Plus de la moitié a déjà péri; sous peu,
vous et vos compagnons subirez aussi le même malheur.»
— «Par quel stratagème, reprit Seng-kia-lo (Sinhala),
pourrons-nous échapper à cet afíí'eux danger?»
— «Nous avons appris, répondirent-ils, que, sur le bord
de la mer, il y a un cheval divin, et que, si un homme le
prie avec une sincérité parfaite, il ne manque jamais de le
passer à Tautre rive.»
«A ces mots, Seng-kia-lo (Siiihala) dit secrètement aux
marchands: «Regardez tous ensemble vers le rivage de
la mer, et implorez son secours avec ferveur.»
«Au même instaut, le cheval divin arriva, et leur dit:
Que chacun de vous saisisse ma crinière, sans regarder
derrière lui; je vous ferai traverser la mer. Après avoir
échappé au danger, vous reverrez le Tchen-jpou-tcheou
(Djamboudvípa), et vous arriverez heureusement dans vo-
tre royaume natal. »
«Les marchands obéirentà ses ordres, et, s'y appliquant
uniquement, sans partager leur attention, ils saisirent sa
crinière. Le cheval divin s'élança au milieu des nuages,
traversa la mer et arriva au bord opposé.
«Les Râkchasis s'aperçurent sur-le-champ de la fuite de
leurs époux, et se demandèrent entre elles avec surprise
comment ils avaient pu s'echapper. Chacune d'elles prit
son fils, et se mit à parcourir les airs. Sachant que les
38
marcliands allaient bientôt quitter Ic rivage de la mer,
elles se concertèrent ensemble, et, d'un vol rapide, elles
allèreiít les chercher au lion. En moins d'une heure, elles
rencontrèrent les marcliands, et les abordèreut les yeux
en larmes, avec un sentiment de douleur et de joie. Alors,
cachant leurs pleurs, elles leur dirent : «Nous vous retrou-
vons avec une douce émotion, et nous sommes heureuses
de nous reunir à nos époux. Depuis longtemps, chaque
couple vivait heureux et goútait les douceurs dun amour
mutuei; mais aujourd'liui vous vous éloignez et nous lais-
sez dans Tabandon. Vos épouses restent veuves et vos fils
orphelins! Qui pourrait supporter la douleur qui nous ac-
cable? Veuillez, de grâce, arretei* sur nous vos regards,
et retourner avec nous dans la ville.» Mais les marchands
ne consentirent pas encore à revenir sur leur résolution.
«Les Râkchasts^ voyant leurs paroles inu tiles, eurent
recours aux plus habiles flatteries, et dóployèrent les plus
pérfidos séductions.
«Les marchands, toujours pleins de tendresse et d'atta-
cbement, éprouvèrent une émotion difficile à surmonter.
Au fond du coeur, ils hésitaient à partir ou à rester ; mais,
à la fin, ils succonibèrent tous. Les Bãkchasis se félicitè-
rent mutuellement de leur succès. Elles donnèrent la main
aux marchands, et s'en revinrent avec eux. Seng-kia-lo
(Sinhala), qui était doué d'un esprit ferme et d'une intelli-
gence profonde, ne laissa pas enchainer son coeur. II put
ainsi traverser la vaste mer et échapper au danger. Dana
ce moment, la reine des Rãkchasis étant revenu seule dans
la ville de fer, les autres femmes lui dirent: «Vous êtes
dénuée de prudence et d'adresse, et, en effet, vous voilà
abandonnée de votre époux. Puisque vous avez si peu de
talent et de capacite, il ne convient pas que vous demeu-
riez ici».
«La reine des Rãkchasis prit alors son fils, et se rendit
en toute hâte auprès de Seng-kia-lo (Sinhala). Elle déploya
toutes ses caresses et ses séductions, et le pria tendrement
de revenir avec elle. Mais Seng-kia-lo (Sinhala) prononça
bll
des paroles magiques, et, brandissant uii glaive acéré, il
lui dit d'un ton courroucé: «Vous êtes une Râkchasí, et
moi je suis un homme ! Les hommes et les démons ont
des voies diíférentes; vous ne pouvez être mon épouse. Si
vous me fatiguez encore par vos instances, je vous tran-
cherai la tête».
La EâkchasZj reconnaissant Tinutilité de ses séductions,
s'élança dans les airs et disparut. EUe se rendit dans la
maison de Seng-kia-lo (Sinhala), et dit à Seng-kia (Sinha),
son père : « Je suis la filie d'un roi de tel royaume ; Seng-
kia-lo (Sinhala) m'a épousée, et je lui ai donné un fils.
Nous retournions dans mon royaume natal, chargés d'objects
précieux; mais, en voguant sur les mers, nous avons
été assaillis par la tempête, et, après une navigation des
plus périlleuses, c'est à grand' peine que moi, mon fils et
Seng-kia-lo (Sinhala), nous avons pu aborder au rivage.
Arrêtée sur ma route par les montagnes et les rivières,
mourant de froid et de faim, et accablée de souffrance, je
laissai échapper un raot qui déplut à mon mari, et je me
vis aussitôt abandonnée. Prenant alors un ton injurieux, il
me traita de Râkchasí *. Si je veux m'en retourner, un
immense intervalle me separe des Etats de mon père ; si
je reste, je suis seule et délaissée sur une terre étrangére.
Que j'avance ou recule, je me trouve sans appui. J'ose
exposer devant vous la vérité des faits».
— «Si ce que vous dites est vrai, répondit Seng-kia
(Sinha), il est juste que je vous reçoive immédiatement» .
«II n'y avait pas longtemps qu'elle demeurait dans sa
maison, lorsque Seng-kia-lo (Sinhala) arriva.
«Pourquoi, lui dit son père, avez-vous préféré les riches-
ses et les choses précieuses à votre femme et à votre fils?»
— «Mon père, dit Seng-kia-lo (Sinhala), cette femme est
une Râkchasí)).
«II raconta alors son ancienne aventure à son père et
1 Le texte donne Lo-ihsa (Rakclias). J'ai du adopter le féminin.
40
à sa mère. A ce récit, tous ses parents et ses alliés se ini-
reiít à la chasser. La Râkchasi alia aussitôt porter plainte
au roi, qui voulut châtier Seng-kia-lo (Sinhala). «La plu-
part des filies des Rakchas^ dit Seng-kia-lo (Sinhala), exer-
cent sur les hommes une fascination diabolique».
«Le roi n'en voulut rien croire, et, séduit par la beauté
de la Rãkchasij it dit à Seng-kia-lo (Sinhala):
«Puisque vous voulez absolument abandonner cette
femme, je la garderai aujourd'hui dans mon palais inté-
rieur *».
— « Je crains íbrt, reprit Seng-kia-lo (Sinhala^ qu'elle ne
vous cause de grands malheurs; car, comme elle est de la
race des Rakchas^ elle ne se nourrit que de cliair et de sang».
«Le roi, sourd à ces avis, Tadmit aussitôt au nombre
de ses femmes. Quelque temps après, au milieu de la nuit,
elle retourna en toute hâte à File de P'ao-tchou, et appela
les cinq cents autres démons femelles de la race des Rak-
chas. Quand elles furent arrivées ensemble dans le palais
du roi, à Taide d'afireux maléfices, elles en firent périr
tous les habitants. Elles dévorèrent la chair et burent le
sang des hommes et des animaux, et s'en revinrent, avec
les restes de leurs cadavres, dans l'ile de P'ao-tchou.
«Dès que le jour eut paru, les ministres se réunirent
pour assister à Taudience du matin ; mais la porte du roi
était fermée et ne pouvait s'ouvrir. Après une longue at-
tente, comme ils n'entendaient aucune voíx humaine, ils
enfoncèrent les portes et entrèrent précipitamment Tun
après Tautre. Dès qu'ils furent arrivés dans rintérieur du
palais, ils ne virent aucun homme vivant, et ne trouvèrent
que des os rongés. Les magistrats se regardèrent face à
face, sans savoir que résoudre, et poussèrent des cris dou-
loureux.
• Ce palais appelé tantôt Heou-kong «posterius palatium», tantôt
Tchong-kovg «médium palatium», répondait au harém des musul-
41
«Commc personne ne pouvait deviner la cause d'un tel
desastre, Seng-kia-lo (Sinhala) la leur raconta de point en
point. Tous les sujects du roi reconnurent qii'il s'était attiré
lui-même son propre malheur. Alors les ministres du royau-
me, les hommes d'État mCiris par Tâge, les magistrats et
les vieux généraux interrogèrent successivement les hom-
mes d'un mérite éclatant pour élever le plus digne au faite
des honneurs (le placer sur le trone). Comme ils admiraient
tous la vertu et la prudence de Seng-kia-lo (Siiiliala), ils
délibérèrent ensemble et dirent: aLe choix d'un prince ne
saurait se faire à la légère. II faut d'abord qu'un homme
soit doué de vertu et de prudence, et qu'ensuite il possède
une intelligence remarquable. En eífet, s'il manquait de
vertu et de pnidence, íl ne pourrait jouir longtemps du
pouvoir supremo ; s'il manquait d'intelHgence et de lumiè-
res, comment pourrait-il diriger les aíFaires de TEtat? Seng-
kia-lo (Siíahala) réunit tous ces avantages. II a découvert
en songe la cause du malheur ; par Teífet de sa vertu, il
a rencontré un cheval celeste, et a loyalement averti le roi
du danger. Par sa prudence, il a su sauver sesjours; c'est
lui que Tordre des temps appelle au trone».
«A peine cette résolution eut-elle été proclamée, que la
multitude du peuple Téleva avec joie aux honneurs, et lui
décerna le tire de roi. Seng-kia-lo (Sinhala) refusa; mais
ce fut en vain. Alors, tenant fidèlement un juste milieu,
il salua avec respect tous les magistrats, et monta aussitôt
sur le trone. Dès ce moment il corrigea les anciens abus,
et prit pour modeles les hommes sages et vertueux. II
rendit alors im décret aijisi conçu: «Mes anciens compa-
gnons de commerce se trouvent encore dans le royaume
des Rakchas (démons) ; j'ignore s'ils sont morts ou vivants,
et ne puis distinguer le bien du mal *. Maintenant je veux
les arracher au danger; il faut que j 'equipe une armée.
1 Cest-à-dire, reconnaítre clah-emeut s'ils sont heureux ou ma-
lheur eux.
42
Sauver lés liommes du péril et compatir à leurs misè-
res, c'est Ic bonheur du royaume; recucillir des choses
précieuses et les mettre en reserve, c'est la fortune de
l'Etat.»
«Sur ces entrefaites, il passa ses troupes en revue, s'em-
barqua avec elles et partit. En ce moment, au-dessus de
la ville de fer, s'agit tout ;i coup le drapoau de mauvais
augure. A cette vue, toutes les Rakchasis furent saisies de
terreur. Alors, déployant leurs flatteries les plus séduisan-
tes, elles allèrent au-devant des troupes pour les attirer et
les tromper. Mas le roi, qui connaissait depuis longtemps
tous leurs artífices, ordonna à ses soldats de prononcer des
paroles magiques, et de montrer, avec un élan impétueux,
la puissance de leurs armes.
«Toutes les Rakchasis tombèrent à la renverse et furent
lionteusement vaincues. Les unes s'enfuirent et se cachè-
rent dans les iles, les autres se précipitèrent dans la mer
et s'y noyèrent. Le roi détruisit alors la ville et la prison
de fer. Après avoir délivré les marchands, il trouva une
grande qnantité de choses précieuses. II appela le peuple
et transporta sa résidence dans File de P'ao-tchou. II fonda
une capitale, bâtit des villes, et se trouva bientôt en pos-
session d'un royaume. Par suite de ces événements, le
nom du roi devint celui du royaume. L'histoire de Seng-
kialo (Siiíliala) se rattaclie aux anciennes naissances de
Chi-kia-fo (Çakya Tathâgata) *.»
• Une autre édition porte Tch'oii «locus)', au lieu de Sse «aífaire,
événement». Si Fou adopte cette leçou, il faudra traduire : Sihhala
est iin des lieux ou naquit anciennement Çâlcya Tathãgata.» On
trouve, en effet, livre XI, foi. 7, au commencement d'uu morceau
moderna, qui ne devait pas trouver place dans le Si-yu-ki: «Jadis
Çâki/amouni Bouãdlia, dans une de ses existences (mot à mot : ayant
métamorphosé son corps, lioa chin)^ prit le nom de Seng-Ma-lo (íáiii-
hala). Comme il réuuissait toutes les vertus, les habitants du
rovaume Télévèrent aux honneurs et le nommèrent roi».
4^
A lenda dos Raxasis da ilha de Ceilão é antiga no
Oriente. E a lenda um Játaca búdico, o Játaca do Cavalo-
-nuvem.
Na tradução, que o sr. Donald Ferguson fez da parte
científica do meu trabalho Fragmentos d'uma Tentativa de
Estudo Scoliastico de Epopeia Portugueza, lê-se em nota
do eximio tradutor:
«In the Academy of Aug. 13 and 27, 1881 (reprinted
in the Indian Antiquar?/ for Oct. 1881, pp. 201-oj, are
two interesting Communications on the subject of «The
Myth of the Sirens», one from Mr, W. E. A. Axon, Avho
drew attention to the «Story of the Eive Hundred Mer-
chants», given by Beal in his Romantic Legend of Sâkya
Buddha, p. 339 íf. ; the other by Dr. R. Morris, who
showed that the story is a veritable jâtaka tale, the PâU
text of which is given in Fausbõirs edition of the Jâtaka,
vol. II, p. 127 íF, under the title oíValâhassajâtaka, «Cloud-
horse Jâtaka)). As no translation of the Valâhassajâtaka
has yet appeared, I give one below, p. 46 /'. The expla-
nation of several doubtful passages I owe to the kindness
of Mr. L. C. Wijesinha, Mudaliyâr, the coadjutor of the
late Prof. Childers in his Pâli Dictionary. I have added a
few notes.
Dou aqui em seguida a tradução a que se refere o
sr. Donald Ferguson, com as respectivas notas como se
encontram no seu folheto.
VII
o Játaca do Cavalo-Nuvem
«Those who will not carry out the advice.» Thus spake
the Teacher, while dwelling in Jetavana, concerning a cer-
tain unhappy monk. This monk having been asked by the
Teacher: «Is it true that you are unhappy?» replied: «It
is true !» When asked, «Wherefore?» he said : «On account
of having looked with desire upon a beautiful woman.»
Then the Teacher said to him: «O monk, these women
who allure men by their forra, voice, odour, taste, and
touch *, and also by the charm of female fascination *, get-
ting them into their power, and knowing that they have
attained their wish, through loss of (men's) purity and
wealth, are, on account of their sinfulness, called Yakki-
nis, for in former days also Yakkhinis approached a com-
1 «Women who allure men by their form,» &c. See Anguttara
Nikâya, Ekanipâta Vagga, I, ed. by Morris for the Pâli Text Society,
1883, pp. 1-2 and 86-91.
1 «Female fascination.» The Pâli is itthikuttam, the latter partof
which is not given in Childers' Dictionary. It occurs three times in
this Jâtaka, and is also found, as L. C. Wijesinha Mudaliyarkindly
points out to me, in the Takkajâtaka, p. 296, vol. I, of Fausbõirs
edition. As to this word, which Dr. Morris does not explain, Mr.
Wijesinha writes that he does not recollect meeting with it in any
other Pâli books but the Jâtaka, where it is almost synonymous
■with lilham. He points out the resemblance to the Tamil kúttu, dancei
and suggests that it is of Dravidian origin, which is not improbable.
46
pany of men by means of female artífice; and having fas-
cinated the merchants and got them Into their power,
Beeing other men also, brought about the destruction of
them ali and devoured them, crunching* them, with the
blood flowing from both sides of their jawB.» He then re-
lated the story:
In former times there was in the island of Larikâ a
Yakkha city called Sirisavatthu. Therein dwelt Yakkhinís.
These, Avhen a shipwreck took, were aceustomed to go
to meet the merchants in splendid clothing, surrounded by
slaves, carrying children on their hips, and oífering food
and drink. That they might think, «We have come to
an abode of men,» they woiild show here and there men
plougliing and tending cattle, and so forth, herds of cattle,
dogs, Síc, and approaching the merchants they would say :
«Drink this rice gruel, partake of this rice, eat this food».
The merchants unawares enjoy the things given by them.
Thus having eaten and enjoy ed, while resting they ex-
change friendly greetings. They ask: «Of Avhat place are
you inhabitants, whence do you come, whither are you
going, on "what business have you como liither?» Ánà they
answer : «We have come hither having been shipwrecked.»
Responding: «Well, sirs, our husbsnds also, three years
ago, went on boardship and went away; they must be
dead; you are also merchants, we will be your wives,«
they enticed those merchants with female blandishments,
and leading them to the Yakkha city, the first men being
captured, having bound them as it were with supernatu-
1 nCrunching.» The Pâli is murumurnptevâ, from murumurupeti,
an apparent causative of miiritmurâyaíi, au imitative word, not
found in Childers' Dictionary. Dr. Morris, however, considers the
word not a causative but a «denominative verb of onomatopoetic
origin, like our words munch, cJmmp, chunch, &c.» The verb mura-
muru^ to murmur, is given in Winslow's Tamil Dictionary. — The
Sans. verb marfammja in a similar sense occurs in the beginning of
tlie IVth act of Uttararàmacharila.
47
ral cliains *, they hiii-iy tliem into tlie abode of destruction.
If tliey do not obtain shipwrecked men near their own
place of abode they wander along tlie seashore, as far as
Kalyâní on the furtlier side aiid Nâgadípa on this side,
and this is their eustoin, But one day five hundred mer-
chants crossed over to their city. The females, approach-
ing them, enticed them, and bringing them to the Yak-
kha city, binding the men whom they first captured as
with supei-natural chains, they hurried them into the abode
of destruction, and made them their husbands, the chief
Yakkliinís, the chief merchants, the others, the remainder,
and so the five hundred Yakkhinís, the five hundred mer-
chants. But that chief Yakkhiní in the night time, when
the merchants had gone to sleep, rising, goes to the abode
of destruction, and kilHng men, eats their flesh, and re-
turns. The others also do hkewise. When the cliief Yak-
khiní had eaten the human flesh, on returning her body
was cold ^. The chief merchant having embraced her knew
that she was a Yakkhiní, and thought : «These must be
five hundred Yakkhinís ; we must escape.» On the morrow,
in the early morning, on going to wash his mouth, he told
the other merchants: «These are Yakkhinís, not human
beings; they will devour us after making us their husbands,
as they have done in times past to other shipwrecked
men; let us now flee.» But two hundred and fifty^ said:
«We are unable to leave them ; you go ; we shall not
flee.» The chief merchant, having persuaded the two hund-
red and fifty by his advice, fled, terrified at the females.
1 «Supernatural chains»: Pâli devasahlchalikâya, wliere, as Mr.
Wijesinha poiuts out, deva can hardly be translated dirme/hesug-
gests a corrupt reading for tadaheva, but as the word occurs twice,
and FausbõU gives no alternative reading, I have let it stand.
2 «Her body was cold.» I have uot elsewhere met with this cha-
racteristic of Yakkhinís.
5 «Two huudi"ed and fifty»: Pâli addliateyyasatâ, literally two-
and-a-half hundred.
48
Now at that very time Bôdhisatta was bom íroiu tlie
Avomb of a maré ; he was puré white, blackhead *, munja-
hairerl ^, possessed of supernatural power, being able to go
througli tlie air. Rising througli the air from the Hima-
vanta, he went to the isle of Tambapanni, and having
eaten paddy produced spontaneously in the lakes and ponds
of Tambapanni he went on, and thus proceeding said com-
passionatel j three times in a well-modulated human voice :
«Does any person Avish to go? Does any person wish to
go?» They hearing the speech came near with folded
hands, and said: «Sir, we folk wish to go.» «Then get
upon my back», said he. Then some got on his back, some
seized his tail, but some stood with folded hands. Bôdhi-
satta by his own supernatural power couveying ali the two
hundred and hfty merchants, even those standing with
folded hands, placing each in his own place, returned to
his own abode. But the Yakkhinis, wheu the time of the
others had come, killed the remainiug two hundred and
fifty men and ate them^.
The Teacher, addressing the monks, said: «O monks,
as those merchands went to the dwelling of the Yakkhinis
and met with their death, while those who obeyed the
word of the cloud-horse king were placed every one in his
own place, even so monks and nuns, laymen and laywo-
men, not fulíilling the advice of Buddhas, experience great
sorrow, through hundreds of misfortunes, by means of the
five sorts of bonds, deed, action, condition, and so forth ;
but those who fulfil the advice obtain the three noble sam-
1 «Black li eaded.i) «Pali kâkasiso, i. e., ncrow-headed.»
2 «Munja-haired»: munja, according to Childers, is «a sort of
grass, saccharum munja, from the fibre of which the Brahmanical
string is rnade», also «a sort of íish.» No doubt the first meaning
applies here. According to the Rgya-Tch' er- Rol- Pa, the horse's hair
is plaited. V. páj. 65.
3 On Ceylon as the island of demons, see Sénart's Essai sur la
Legende du Buddha, p. 231 et seq.
49
pattis, the six Kâma heavens, the hundred Brahma worlds,
and suchlike conditions, and experiencing the great nib-
bâna of immortality enjoy great happiness.» The Perfectly
Enlightened then, having said this, spoke theses verses :
1. «Those men who will not carry out the advice preach-
ed by the Buddha will obtain misfortune as the merchants
by the Râkshasís.
2. «And those men who will carry out the advice preach-
ed by the Buddha will reach the shore safely as the mer-
chants by means of the horse. »
The Teacher, having thus set forth this discourse, illus-
trating the doctrines, connected the Jâtaka (at the end of
the teaching the unhappy monk was establi.shed in the
fruit of satâpatti^ and many of the rest obtained the fruits
of sotâpatti, sakadâgami, anâgâmij and arahatship) : —
«Those two hundred and fifty merchants who folio wed
the advice of the cloud-horse king were the followers of
the Buddha, and I was that cloud-horse king.»
VIII
Valor histórico e jeográfico das lendas precedentes
Nestas lendas temos a separar a parte histórica da parte
mitolójica.
A parte histórica é evidentemente a conquista árica da
ilha de Lancá, e a conversão ao Budismo.
Mas antes desta conquista búdica, a ilha tinha sido já
conquistada pe'los Árias como o canta a epopeia de Rama:
nem vemos nestas lendas senão a serie lendária de que o
Ramáiana é a mais bela expressão *.
A crónica páli atribui ao mesmo facto os dois nomes
Tamba-panni, em sámscrito Tãmra-parna, ou Tam-
ba-dipo, em sámscrito Tãmra-dvipa, e Sihala-dlpo,
em sámscrito Sihala-dvipa. Há nisto, a meu ver, con-
fusão.
Explica o cronista a etimolojía de Tamba-panni de
modo inteiramente falso, como por jente ignorante dos
processos etimolijicos ouvimos explicar a orijem de nomes
locais, por exemplo — Ribeira de Cosellias, Odemira^, Mira-
gaia ^ Penda.
Basta vermos dois ns em panni para concluirmos o vo-
cábulo em sámscrito parnT que referimos a parna «folha»
com terminação feminina no compostq. O vocábulo pãni
1 Leia-se Sénart, Essai sur la legende du Buddha, 272-278.
o:^
«mão» corresponde em sámscrito a idêntico. O vocábulo
tamba «cor de cobre, vermelho» corresponde em sám-
crito ao vocábulo tãmra «cor de cobre, vermelho», mas
nome ainda de varias plantas e entre elas a tãmra-parni,
a Rubia Munjista de Roxburg, da cual em sámscrito se diz
também mangisthã (páH mangittã), a ruiva dos tin-
tureiros, e duma espécie de sândalo; o vermelho, de que
fala Garcia da Orta, Colloquio XLIX, mas que não deve
confundir-se com o actual Pterocarjpus Santalinus, mais
conhecido pe'lo nome de Lignum Santalinum rubrum.
Pe'lo que dizem Fluckiger e Daniel Hanbuiy *, sou le-
vado a crer, que, no tempo do Físico de D. João III, a
madeira conhecida pe'lo nome de sândalo vermelho no
comercio não era a de uma variedade de sândalo, antes
já mercadoria mui diferente como a que hoje tem na Eu-
ropa esse nome. Garcia da Orta confessa mesmo não ter
conhecido a árvore, mas soube que duma parte usavam os
naturais da índia contra as febres, e estimavam a madeira
como boa de aparelhar e própria pe'la sua grandeza para
pagodes e ídolos.
A verdadeira rejião do sândalo na índia é do Malabar
para Caromandel, especialmente nas montanhas de Malaia.^
Hiuan-Tsam ^ descrevendo estes montes diz :
«Là s'élèverit les monts Mo-la-ye (Malayas) avec leurs
flancs escarpes et leurs sommets sourcilleux, leurs vallées
sombres et leurs profonds ravins. Sur ces montagnes,
croissent la santal blanc et l'arbre nommé Tchen-t'an-m-p'o
(Tchandaneva «semblable au santal»).
E na rejião dos montes Malaias^ que justamente ficava
na índia antiga uma das nove divisões * do País de Barata
1 Trad. fr. de Lanessan, HiMoire des drogues d^origine végétale,
Paris 1878, 2 vol. — vol. II, páj. 372-373.
^Mahãbhãrata e Kãmãjana apud Sansknt Wõrterbuch.
' Apud Stanislas Julien, Mémoires, II, páj. 122.
^ Siddhãnta-Si romani, III, 41.
53
(a índia), a divisão ou khanda Tamra-parna, e o rio
do mesmo nome *.
O mercado de sândalo em Ceilão era importantíssimo
nos primeiros séculos da nossa era. Todavia as grandes
lojas, que dele havia abertas, recebiam-no de país estra-
nho. Ceilão importava-o para o expedir, porque era o em-
pório do mundo asiático como ponto central de todo o co-
mercio marítimo^.
Por outro lado é certo que, antes da expedição árica
atribuída a Vijaia e com a qual se introduziu o budismo
em Ceilão, houve a expedição árica atribuída a Rama. Da
expedição de Vijaia há tradição na costa oriental, da ex-
pedição de Rama há viva tradição na costa ocidental, no
Malabar. Entre os Malabares existem ainda hoje famílias
com os nomes antigos da raça dos IxiiácuSj os ascendentes
de Rama^.
E possível, por consecuencia, que o nome de Tãmra-
- p a r n a, anterior ao deSíhala-dvIpa provenha da rejião
do Malabar^.
Na parte mitolójica distinguimos como tendo valor his-
tórico a morte do leão.
1 Sanslcrit Wõrterbuch, s. v. T.-p.
2 Richthofen, China, I, 521, 524 nota 2.
* Turnour's, Epitome of Ceylon History. [Cf. também Ind. Ant.
vol. XI, páj. 2Õ7 (Ed. I. A.)]
'' Aqui anotou o sr. Donald Ferguson : On tbis subject of the name
of Tanibapanni and the landing of Vijaya, I would refer to Dr.
Oaldweirs Politicai and General History of the District of Tinne-
velly, 1881, pp. 9-10, 13-14, where the connection between the river
Tâmraparní and the name for Ceylon is shown to be exceedingly
probable, though it is left doudtful which was borrowed from the
ether; also Dr. E. Muller's Ancie.nt Inscrií^tions of Ceylon, 1883,
pp. 21-24, where the theory is advanced tliat the Vijayan invaders
carne to Ceylon through Southern índia. We have not yet suffi-
cient evidence, however to show that the invaders did land ont the
west coast oi Ceylon. — D. F.
54
A lâmpada falante, o cavalo májico ou voador, e a des-
ventura de quem olha para trás, são elementos mitolójicos
doutra ordem.
Estes assassínios, cuási sempre fratieidios, mas ainda
parricidios e filicidios, referem-se a edificação duma cidade
levantada sobre o fosso dentro de que se havia lançado a
cabeça, ou o p/za/Ziís^ do individuo sacrificado e cujo nome
era, por vezes, dado à cidade *. E cuási certo encontrar-se,
no povo cuja civilização rudimentar entrou no período da
construção domiciliar, a crença de que o espírito da vítima,
enterrada nos caboucos da casa, torna esta mais sólida e
é uma como que divindade tutelar das vizinhanças da casa.
Em terras de grande desenvolvimento de civilização tem-se
reduzido esta crença a mero prejuízo ; e como atenuação
lança-se nos alicerces um frángão morto e até (na Alema-
nha) se faz atravessar por cima dos caboucos com um caixão
de defunto, vazio.
O leão morto por Simhahálm tem na Grécia o seu cor-
respondente niitolójico no leão de HéracleSj que alguns
mitólogos explicam pe'la nuvem, calijinosa e rebombante,
vencida pelo deus solar ^. E conhecido na tradição helénica
o leão monstruoso e terrível, o leão assolador do pais do
rei de Mégara, cuja filha casará com o herói que o matar ;
e todavia o leão não teve o seu habitat no Peloponeso nem
em parte nenhuma da rejião dórica, à cual pertencem as
cidades de Mégara e de Neméa.
A tradição parece ter caracteres comuns à mitolojia dos
povos áricos. E para mais o comprovar há a circunstancia
1 Veja-se Fr. Lenormant. Les origines de VHisioire d'apres la
Bihle et les traditions des petiples orientaux, 1880, cap. IV; con-
fronte-se V.-Abreu, Investigações sobre o caracter da cimlisaçào árya
hindu, 1878, páj. 38-39.
2 Cf. a explicaçào da morte de Alei por Caim dada por Goldziher,
Der Mythos hei den Habraern, Goldziher-Martineau, páj. 113, 114,
126 e passim.
00
de eer um grande viajante por mar o herói da índia e o
lieroi da Grécia K
Na idade-media o leão e a virjeni da lenda búdica são o
monocerote e a donzela, que o afaga em seu colo, atraíndo-o
pe'los encantos da sua beleza ou pe'lo perfume suavíssimo
que exhala"^.
Antes de examinarmos os outros elementos mitolójicos
cumpre não esquecermos, que em a literatura clássica da
Europa se mencionam entes femininos semelhantes às cruéis
Raxosis: tais são na ilha africana, sempre povoada, os en-
tes fantásticos do sexo feminino exclusivamente, de que
dá noticia Pomponio Mela (ÍII, 9). E Atheneu (V, 64) diz-
-nos que ]\Iario trouxe da Africa peles de animais maravi-
lhosos que oferecera ao templo de Héracles.
E bem conhecida a orijem do nome de Gorila dado no
Périplo de Hanon, pe'lo navegador cartajinês, a certos
animais da zona tropical por ele encontrados nas costas
ocidentais da Africa. Eram três fêmeas os animais que,
dentre esses, ele trouxe e consagrou ao templo de Tanit
(Juno).
Assim pois, se há tradições idênticas duma ilha de fe-
rozes entes femininos, tanto na índia como na Europa, há
1 Veja-.su Decharme, Mythologie de la Grece antique, L, IV, cap. II_
Não esqueçamos todavia que Maury demonstrou, que as lendas
em que figura o leão no Peloponeso foram levadas para ali da Fri-
jia, da Lidia; e que hoje se conhece o mito de Adónis na epopeia
acadio-babilóuica, e se sabe igualmente que o mito de Sansão é o
mito do Héracles assiro-acádico, Ninib ou Nindar, deus solar, re-
presentado por um jigante que estrangula um leão. A despeito de
tudo isto, é certo que uma espécie de leão existia em tempos his-
tóricos na Trácia e países circunvizinhos, como se vê do que nos
deixaram dito, em seus escritos, Heródoto (VII, 125) e Aristóteles
(H. an. 28).
^ Brunetto Latini, Trésor de toutes choses. Jordanus, Mirabilia.
56
também um facto histórico à semelhança do cual podemos
explicar a tradição hindu. Com efeito a tradição na Europa
provém do atraso da antiguidade, em anatomia e etnolojía,
e dos séculos decorridos entre o navegador púnico e o jeó.
grafo do tempo de Cláudio.
Não devem ser tomados, portanto, na conta de fabulosos
os habitantes do sexo feminino, as ferozes Raxasis da ilha
conquistada por Vijaia ; temos, antes, todo o direito a con-
siderá-los como as mulheres selvajens de Hanon que para
Pomponio Mela eram entes fantásticos.
IX
Raxasis, Sereias e Harpias. Os cantos celestes
Se não quisermos ver nesses entes fabulosos, — porque
é contestável — , a expressão poética ou mitolójica do facto
de existirem na ilha animais de formas estranhas mais ou
menos semelhantes às humanas, mas desconhecidas dos
habitantes da índia, podemos estudar o facto mitolójico em
si, isto é, como mitolojía.
Há tradição na Europa, e se lê dela nos poemas de Ho-
mero, que bem cuadra com as lendas das Raxasis da ilha
de Ceilão. É a lenda das Sereias e das Harpias.
E tanto mais natural comparar a lenda das Eaxasis à
lenda dos entes psicopompos da mitolojía clássica, cuanto
é certo que em monumentos búdicos de Java (Bôrô Boe-
doer, op Het Eiland Java^ de Leemens segimdo os traba-
lhos de Wilsen e Brumund. Leide, 1874, Atlas, CIV) se
vêem entes com figura de ave e mulher, tidos como sedu-
tores pe'la suavíssima e arrebatadora música do seu canto.
Como divindades do mar, embora nefastas, as Harpias
são irmãs de íris, outra divindade indo-celta. Hesíodo dá-
-Ihes ao pai nome Thaúmas e à mãe nome Electra,
isto é, a violência personificada em jigante, e o esplendor
luminoso que se reflecte no azul das ondas do mar perso-
nificado em ninfa oceânica.
Nesta filiação vemos prova da identidade, sob certos
pontos de vista, entre as Harpias e os Marutes da índia
58
védica, filhos de Rudra a violência do vento, o furor das
tempestades, e pe'la mãe filhos de Prixni, a vaca mos-
queada, isto é, do rio celeste ou da nuvem. Os Marutes são
divindades luminosas e rebombantes, que andam sobre as
montanhas, levados no carro do raio e do vento, dardejando
as lanças de ouro, fazendo tremer os montes e abalando
as florestas.
Marutes, Baxasis, Sereias, Harpias, são divindades de
carácter acuático, fluvial, tempestuoso; além disto, como
os Ogres e os nossos Olharapos, o seu poder májico arrasta
sedutoramente as pessoas, que estes entes maléficos de-
voram.
O tipo fundamental destas diferentes concepções, a serem
elas, como julgamos, do mesmo ciclo, é o mar celeste re-
volto pe'lo vento e encoberto pe'las nuvens, sede ao mesm.o
tempo dos cantos suaves e májicos, como são os cantos dos
Marutes.
X
o cavalo do herói. Transformações do mito do cavalo májlco :
çapatos encantados, botas de cortiça
Fora da tradição comum a toda a raça árica, existem
na Europa vestijios tradicionais que os mitógrafos de-
monstram serem de orijem búdica. Deu-lhes a Itália fácil
acesso e aí os encontramos abundantes, e dai se espalha-
ram pe'lo ocidente ^
• Entre nós ignoramos que haja algum conto popular em
que se mencionem lâmpadas falantes. Na Itália são muito
conhecidos, e o leitor os pode ver na magnífica colecção
de Pitré, Fiàbe, Novelle e Eaccónti popolari Siciliani, por
exemplo no conto «La soru di lu Cotiti»^.
Na Itália se encontra também a tradição do cavalo má-
jico. Mas neste caso entram elementos áricos comuns e de
tradição, que é filha de importação por influencia búdica.
Antes do cavalo alado descrito por Ariosto, conheceu a
Grécia : Arion, o cavalo de Adrasto, e Pégaso^ outro cavalo
maravilhoso^.
1 Vide Gr. de Vasconcellos-ABREu, Summario das Investigações em
Samscritologia desde 1886 até 1891, páj. 41 segs.
2 Vol. I, páj. 60 segs.
3 A lenda árabe do cavalo Hizan que passou a Moisés, protejido
pe'lo arcanjo Gabriel, para o outro lado do Nilo, depois da saída do
palácio do Pharaó, é moderna.
60
É com efeito do patrimonicj das lendas áricas o inito do
cavalo do herói, que o salva das dificuldades, como o cavalo
dos dois Axuínos e o cavalo de Indra, que o avisa ou pe'lo
menos lhe prognostica, como o cavalo de Rávana chorando,
a futura desgraça, ou relinchando prediz, como a Darío,
a gloria e o triumfo ; o mito do cavalo, que se identifica
com o herói, o nome do cual lhe provém do cavalo que
monta e da força desse cavalo, como Axuatáman (asva-
-tthãman por asva-sthãman «força do cavalo»), o
filho de Drona, no Mahabárata.
Destas lendas podemos ainda aproximar a lenda dos
dois cavalos de Aquiles, as lendas dos cavalos — de Alexan-
dre, de Baiardo, e de Esquírnero nos Edas ; e tantas outras,
sem esquecermos a lenda de Hipocrene.
As transformações posteriores do mito do cavalo májico,
do cavalo do herói, indicam-uos, todavia, importação de
tradições búdicas.
Assim transformado, o cavalo májico é em Lisboa o jpar
das botas de cortiça; e nas producções literárias modernas,
quem o não conhece na capa do Diabo coxo e na Bengala
de Mr. de Bahac? Nos contos populares corresponde-lhe
o tapete sobre que o herói toma assento e sobre o cual é
transportado pe'lo ar, as botas do rapaz que procm-a as
três irmãs *, os çapatos encantados ^, e nos proloquios o
nosso «Quem tem capa sempre escapa».
Antes de prosseguirmos, convém recordar que na mi-
tolojía grega existe também a substituição do cavalo pe'lo
çapato ou sandália. Perseu dá as sandálias, de que se ser-
viu para ser transportado ao lonje por toda a parte, a
HermeSj depois que ele envolto e oculto na maravilhosa
cabeleira venceu o monstro e conquistou Andrómeda. Mas
se recordamos esta lenda é para que se note que as orijens
* F. Adolpho Coelho, Contos populares portuguezes, conto xvi.
2 Veja-se The Indian Antiquary. Yol. III, «Origin of Pãtna»,
principalmente, páj. 150, col. 2.^
61
deste mito são orientais, como o demonstrou Clermont-Gan-
neau, comparando Horus e São Jorje, na Revue Arch.,
n." de outubro, dezembro, 1876 *.
Exemplo destas transformações no Oriente anteriormente
às que se conhecem europeizadas é o avadana n.° LXXIV,
dos contos e apólogos indianos traduzidos do chinês por
Stanilas Julien^.
í Ào meu amigo e colega, Dr. F. A. Coelho, devo a seguinte comu-
nicação: "Sobre um episodio em que, em logar do botas, figura ás
vezes um manto ou uma sela, que transportam pelo ar, e que se
encontram em grande numero de contos europeus e orientaes, veja-
se Gebr. Grimm, Kinder und Hausmaerchen, III, 166 (nota ao n.' 92);
E. Koehler, no Jahrbuch fur roman. und engl. Literatur, VII, 148
(nota ao conto veneziano da collecçâo Widter Wolf, n." 10, pu-
blicada no mesmo periódico); J. Grrimm, Deutsche Mythologie, 3.*
ed., p. XXX; F. Liebrecht, in Orienl und Occident, i, 132, onde
o auctor se refere a um seu artigo na Germânia, de Pfeifier, II,
244. Aos contos indicados por estes auctores ajuntaremos os seguin-
tes em que reaparece o episodio . J. G. von Hahn, Griechische, und
albanesiche Maerchen, n.° 141 (Leipzig, 1864), em que é batendo na
terra com bastão magico três vezes que o possuidor se transporta
aonde quer; Kreutzwald-Loewe, Esthnische Maerchen, n.° 11 (botas
de cortiça que transportam ao longe); G. Pitré, Fiabe, Novelle e
Bacconti popolari siciliane,n." 31 (botas que levam como o vento).»
2 Vol. II, páj. 8; «avadãna» significa primariamente «nego-
cio liso, honesto, leal», mais tarde «rasgo heróico», e por fim «lenda,
conto»; e assim título de colecção de contos. Burnouf. lufr. à VHist
du Buddhisme Indien, 1." ed., 115. Sobre a grande importância dos
Avadanas e dos Játacas búdicos veja-se principalmente o 1.° vol.
do Panchaíantra, de Benfey ; e Liebrecht, Zur Volkskunde, 109-121
ou in Orient und Occident, de Benfey, I, 129 e ss., e Léon Feer,
Éiudes houddhique.1, in J. Asiat., VII Ser., tomo. XI, XIV, Ava-
dãna- Çataka^ Cent Legendes Bonddhiques trad. du sanskrit par
M. Léon Feer. Annales da Musée Guimet, tomo XVIII.
XI
La dispute des deux démons
II y avait jadis deux Piçatchas qui possédaient chaciin
un coffre, im bâton et im soulier. Ces deux démons se dis-
putaient entre eux, voulant cliacun avoir ces six objects
à la fois. lis passaient des jours entiers à se quereller sans
pouvoir tomber d'accord. Un homme ayant été témoin de
cette discussion obstinée, les interrogea et leur dit: «Qu'ont
donc de si rare un coffre, im bâton et un soulier, pour que
vous vous disputiez avec tant d'acharnement?»
De ce coffre, répondirent les deux démons, nous pou-
vons tirer des vêtements, des breuvages, des aliments, des
couvertures de lit, et eníin toute sorte de choses nécessai-
res à la vie et au bien-être. Quand nous tenons ce bâton,
nos ennemis se soumettent humblement et nul n'ose dis-
puter avec nous. Quand nos avons mis ce soulier, par sa
vertu, nous pouvons marcher en volant sans rencontrer
nul obstacle».
En entendant ces paroles, cet homme leur dit: «Eloi-
gnez-vous un peu de moi, je vais faire un partage égal».
A ces mots, les deux démons se retirèrent à Técart.
Cet homme prit les deux coffres et les deux batons, chaussa
les deux souliers et s'envola. Les deux démons furent stu-
péfaits en voyant qu'il ne leur restait plus rien.
Cet homme parla alors aux démons, et leur dit: «J'ai em-
porté ce qui faisait Tobjet de votre querelle, je vous ai
64
mis tous deux dans la même condition, et vous ai ôté tout
sujet de jalousie et de dispute».
O nosso primeiro mitógrafo, o lente no Curso Superior
de Letras, dr. F. Adolpho Coelho, conhece um conto po-
pular português de que ainda não pôde colher versão com-
pleta, em que há três irmãos um dos cuais tem um óculo
pelo cual vê a grande distancia, outro tem um tapete que
transporta ao lonje, outro tem uma maçã, ou uma agua
(leite no Játaca búdico), que cura toda a doença. Adolpho
Coelho vê neste conto, de que, diz ele, há muitos paralelos
europeus, orijem búdica; e conclui-a do conto que deixa-
mos transcrito dos Avadanas.
O conto paralelo na índia é o 24 do tomo II da colecção
Tuti-Náme, ed. de Georg Rosen, Leipzig, 1858, citado por
De Gurbernatis, Myihologie Zoologique, vol. i, páj. 135*.
Na colecção de fábulas hindus, em sámscrito, o Pancha-
tantra, pode o leitor achar interesse lendo a variante do
episodio, no conto do «Tecelão que se faz passar por
Vixnu». Benfey no seu precioso estudo sobre os contos e
apólogos hindus estuda algumas particularidades deste
conto -.
1 Cf. Liebreclit, Volkskunde, pag. 118.
2 Pantschatantra, vol. I, paj. 159-163. Finalmente citamos ao
leitor curioso o «Conto do rei Brahmadata-), colijido no Kathã-
-Sarit-Sãgara, que se pode ler a páj. 12 e segs. da tradução de
C. H. Tawney, in Bihliotheca Indica, cujas notas sâo muito eluci-
dativas, em especial a de páj. 14. Cf. o Játaca n.° 186, de Fausbõll,
Dadhi-vãliana Jãtaka «O Játaca do Senhor do Leite», tra-
duzido por T. W. Rhys Davids, Buddhist Birth Stories, I, páj. XVI
XII
o rinchar do cavalo do herói. O olhar para trás
O cavalo que assim vemos substituído pe'la capa, pe*lu
tapete, pe'las botas, pe'lo çapato, é na relijião búdica um
dos requisitos necessários do kakravartin*.
Chacravartine é o que possui tudo cuanto está dentro
dos limites do mundo ; Buda ó um Chacravartine. O seu
cavalo é branco como a luz do dia, e tem crinas como os
raios dourados do sol ; sustenta-se bebendo os ventos e voa
percorrendo o espaço inteiro. ^ Segundo o «Rgya-Tch'er-
-Rol-Pa» o cavalo que pertence ao Buda Chacravartine é
pigarço, tem a cabeça preta, as crinas entrançadas, co-
bre-o uma rede de ouro, e percorre todo o espaço dos céus.
O Chacravartine monta-o ao romper do sol e percorre, dum
lado e doutro até aos confins oceânicos, o mundo inteiro,
não sem que, antes, o guarda, que tem o corcel a seu cui-
dado deixe de recomendar ao animal que relinche^.
Dos hinos védicos vemos que o sol é designado como
um deus que vê tudo e tudo conhece, a que nada se es-
1 Benfey, l. c. Spence Hardy, Manual of Budhism, páj. 127. Fou-
caux, Bgya-Tch'er-Rol-Fa, cap. III.
2 Cf. Sénart, Essai sur la legende du Buddha, passim.
' O nome do cavalo de Buda é Cántaca, kanthaka, provavel-
mente por krandaka «o que relincha, rinclião», / krand «relin*
char, rinchar, gritar, chorar, lamentar».
66
conde, e que se ergue puxado pe'los seus raios, pe'los
seus cavalos, ^ e esta concepção revela grande desenvol-
vimento do antropomorfismo porque ao sol dá- se em o
hymno VII, 77, 3, a dupla cualificação de «olho dos deuses»
e de «cavalo branco, brilhante.» Por outro lado o sol é
comparado ao fogo do altar, e o fogo do altar é comparado
ao sol, porque em mitolojía como em todo o culto védico,
aos fenómenos celestes correspondem iguais fenómenos ter-
restres, o que se passa na terra tem igualmente logar no céu.
O fogo, ou o lume, Agni, ignis em latim, é também com-
parado a um cavalo^. É ele o que vai da terra aos céus
levando o sacrifício aos deuses^, relinchando desde o pri-
meiro momento, i. e., crepitante no altar do sacrifício, re-
bobante, estridente no meio da nuvem como raio que fende
o espaço.
É ele que traz os deuses ao altar *^, é ele que dá a vito-
ria, é ele que salta por cima dos abismos, é ele o vencedor
que salva o herói. ^ E ele que se alimenta dos ventos, que
é o amigo do vento ^; é ele o cavalo de que podemos dizer
com Ariosto : ^
«Questo è il destrier
Che di fiamma e di vento era concetto ;
E senza fieno e biada, si nutria
DelFaria pura »
1 Rigveda, I, 50, 1, cf. com Itgv, IV, 45, 6; etc.
2 r, 58, 2; 149, 3; III, 1, 4; 2, 7; VI, 2, 8; 12, 6; etc.
3 III, 27, 14.
4 I, 14, 12.
» Cf. VIII, 91, 12 com IV, 2, 8.
6 Cf. Rgv. V, 19, 5 ; X, 91, 7; I, 94, 10; etc.
"> Orlando Furíoso. Canto XV, 41. Cf. Custodio Jesam Barata, -Re-
ereaçamproveytosa, part. I Colloquio IV. E ma,is Dissertações , do Padre
António Pereira de Figueiredo, Dis. IV«Das Egoas daLusitania-;,
pag. 100-106 do tomo IX da Hist. e Memorias da Acad. líeal das
Sciencias de Lisboa. É notável que esta lenda, de as éguas concebe-
rem de Zéfiro, é inseparável da lenda das Harpias.
Homero diz-nos, que os corseis de Aquiles eram filhos de Zéfiro
67
Seguros às crinas do cavalo májico, os companheiros de
Simhabãhu podiam salvar-se das vorazes Raxasis, mas sob
a condição, imposta a Orfeu, de não olharem para trás.
Eles deixam-se, porém, seduzir pe'las Sereias de Ceilão e
morrem às suas mãos, como Orfeu às mãos das Bacantes
da Trácia; perdem-se pe'lo motivo que roubou a Orfeu,
astro nascente subindo para a terra^ a formosa Eurídice,
a aurora sua amante.
Na mitolojía semítica encontra-se este mito. Goldziher *
explica pela teoria solar o mito das filhas e mulher de Lot.
Como tantos outros traços das antigas lendas, também
este, diz-me o Dr. F. Adolpho Coelho, se reproduz nos
contos populares modernos, por exemplo em diferentes ver-
sões europeias do conto das «Duas irmãs invejosas»^.
Em algumas versões populares portuguesas do conto,
que o Dr. Adolpho Coelho possui e obsequiosamente me
mostrou, dois dos três irmãos, heróis de historia, quando
vão à busca de certos objectos maravilhosos são converti-
dos em estatuas de pedra por olharem para trás ao ouvirem
diversas vozes.
As lendas de individuos convertidos em pedras não são
exclusivas da raça árica, como vemos pe'lo exemplo de
Lot. Mas ainda mais : não são exclusivas da raça branca.
Encontra-se na América do norte, como se vê do «Popol
Vuh»^ e dos estudos de Múller sobre as primitivas relijiões
e da harpia Podargue surpreendida em um prado à beira do Oceano.
(Ilíada XVI, 150 segs.)
Também os Árabes dizem que o seu cavalo é filho do vento do
deserto. (F. Gen. Dumas, Le cheval du désert, mceurs, etc.)^ e entre os
Chins há a lenda dum país de Amazonas que concebem da sombra
dos homens. (Williams, The Middle Kingdom, 3.* ed., II, 154).
1 O. c, 189-197.
2 Veja- se a lista das versões dadas pe'lo meu colega Coelho na
sua colecção, Contos populares portuguezes, páj. 19-20.
^ Le lh're sacré et les mythes de Vantiquité américaine, avec les
livres héroiques et historiques des Quichés.» Orijínal e trad, dados
pe'lo Abbé Brasseur de Bourbourg, páj. 343-34.^.
68
dos Índios americanos. * A maneira pe'la cual estas lendas
aí são explicadas é uma comprovação da teoria solar, que
em si não é falsa, mas só defeituosa cuando exclusiva nas
explicações mitolójicas, como dela exajeradamente se teem
servido alguns mitólogos : «Um jigante guardava as caver-
nas onde estavam os homens que a Màe-terra tinha pro-
duzido ; uma noite este jigante deixou as cavernas, e depois
do romper da alva, o sol surprehende-o e transforma-o no
rochedo Cauta)).
Não podemos deixar de ver nesta lenda a semelhante da
lenda de Atlas, o jigante do ocidente, transformado em
monte. E pe'la relação em que mitolójicamente está Atlas,
Perseu de ^es alados e as Gorgonas (às cuais foram compara-
das as mulheres selvajens de Hanon), e ainda o cavalo Pé-
gaso^ que nasce do sangue de Medusa, não será possível negar
que por toda a parte estas transformações em pedra são
lendas cuja explicação está na passajem do dia para a noite,
e na entrada ou queda do Sol nò mundo das trevas, em o
mundo subterrâneo chamado Tártaro pe'los gregos, Talá-
tala pe'los Arias-híndus^, invisível como a rejião Amenti
dos Ejipcios^, de que dá conta satisfatória a teoria solar;
1 J. G. Miiller, Geschichíe der amerikanischen Urreligionen, Basel
1855, pag. 179, Cf. pag. 110.
2 Benfey, Hermes, Minos, Tártaros.
3 Falarmos, neste logar, da Amenti não é um acaso, nem uma
comparação indiferente e desnecessária. O motivo é justo, e a com-
paração calculada. O cap. XV do Livro dos Mortos diz : «A tarde o
sol volta a sua face para a Amenti». Pierret, no Vocabulaire Hiéro-
glyphique, páj. 29, diz : «Ament, Amenti, enfer, région ou se cache
le Soleil, séjour des ames après la mort.» E mais abaixo : «Ament,
rOuest, la région occidentale», Cf. do mesmo autor Dict. d'Arckéo-
logie Egyptienne, s. v.
A esta definição de Amenti vem ainda juntar-se o que dizem P.
Guieysse e E. Lefébure, em Le Papyrus Funéraire de Soutimes,
pag. 4: «II semble même que les mythes de TEgypte, moins diver-
sifiés par les legendes et les jeux de mots que ceux de la race indo-
européenne, devraient se laisser plus aisémeut pénétrer. Les tex-
69
nem será possível negar a íntima conexão entre os elemen-
tos mitolójicos das lendas orientais, que ficam dadas, e os
idênticos das lendas da antiguidade clássica.
Ligam -se ainda a estas lendas superstições que encon-
tramos em nossos dias pe'la Europa : assim em Portugal
diz o povo que «andar para trás é cair no inferno» e os
Noruegos dizem que «quem anda para trás atira com o
pai e com a mãe para o inferno» como dizem igualmente
que «é bater na mãe bater na terra» e «é bater no pai
bater em uma pedra»;* superstições estas que também se
encontram do outro lado do Oceano, na América, segundo
MiillerS.
tes hiéroglypliiques nous apprennent, sans contestation possible,
que depuis les premiers siècles jusqu'aux derniers, la plupart des
divinités ont gardé leurs significations originelles, qu'indiquent
leurs noms, et que les prêtres ne perdaient pas de vue. Pour ceux-ci
comme pour nous, Ra est le soleil, Shu, la clarté. Nu, le ciei, Hapi,
le Nil, Amenti, Toccident, etc.»
1 Liebrecht, Norwegischer Aberglaube, in Volkskunde, páj. 130 e
segs. n.° 174 a, b.
2 Op. ciL, páj. 110. Cf. Grimm, Deutsche Myth., 2.» ed. 538 ap. L.
xin
As pegadas dum deus no alto dum monte
I. — Pegada de Adão e Ponte de Adão
Expliquemos agora o mito das pegadas divinas, e diga-
mos como o facto natural do monte do Samanela condiz
com o simbolismo árico.
Assim como a concepção árica do cavalo branco do herói
provém dum mito solar e do mito da nuvem, assim tem sua
explicação semelhante a crença em vestijios da passajem
de uma divindade sobre a terra, e principalmente a crença
em pegadas divinas no alto de montanhas.
Advirta-se todavia que, entre povos para explicação de
cuja mitolojia não devemos fazer intervir as crenças e
simboHsmos áricos, existe a lenda das pegadas de um herói,
ou de um deus.
Na relijião búdica o cavalo e os pés de Buda são objec-
tos da maior veneração nos seus templos. E como tais -os
vemos representados nos baixos relevos, nas esculpturas ; e
« . . . . em Ceylâo que o monte se alevanta
Tanto, que as nuvens passa, ou a vista engana,
Os naturaes o tem por cousa sancta
Pela pedra onde está a pegada humana.
L. X., foi. 183.
Camões e já antes Duarte Barbosa tiveram conhecimento
deste vestijio da lenda búdica; mas vê-se que a ouviram
dos Árabes. Gaspar Correia concorda com o que diz Duarte
Barbosa. António Tenreiro, no seu Itinerário refere cousa
semelhante duma pedra, que viu em Cefete, «branqua
como mármore em que estavam assinadas duas pegadas de
pee grande e mujto poydas das mãos de os mouros as
porem em ellas . . . polas terem em grande veneraçam por-
que dizem que aquellas pegadas deyxou Moyses em aquella
pedra . . . » ^
O nome de «pegada de Adão», em logar de «pegada
de Buda», dado à depressão no alto do Samanela não é o
único exemplo dum nome indiano substituído por outro de
orijem árabe. Assim chamaram os Árabes «Ponte de Adão»
à «Ponte de Kama», à linha de rochedos que se alonga
desde o continente asiático até a ilha de Ceilão, como
poldras enormes lançadas por Hánumat, desde a extremi-
dade da costa de Coromandel até a ilha do terrível Rávana,
para passajem das tropas do heróico Rama, e chamada
Setu-bandha {Ramáiana, ed. de Gorresio, V. 95; trad.,
vol. IV, cap. 95; em o magnífico resumo de H. Fauche
que é o Ramáiana, para assim dizer popular no ocidente
da Europa, este capítulo, onde se descreve a faina dos
exércitos aliados construindo a «Ponte de Rama», está a
páj. 163-165 do tomo II).
De terras baixas corre a ilha de Ceilão de 7° 51' de
latitude para o sul, levantando-se, pouco a pouco, e vindo
a erguer-se em altíssimas serras, que das nuvens caiem,
cuási de repente, sobre a outra banda do mar.
1 Livro de Duarte Barbosa, no tomo II da CoUecção de Noticias
para a Historia e Geografia das Nações ultramarinas que vivem nos
Dominios Portuguezes publicada pela Academia Real das Sciencias,
paj. 351 da 2.^ ed.; Lendas da índia por Gaspar Corrêa publicadas
de ordem. . . da Academia, Eeal das Sciencias de Lisboa, etc, tomo I,
páj. 650; Itinerário, etc, ed. Rollandiana, páj. 76.
I
li^BiP'
73
Dos montes que formam a copa deste honé de Jockey é
notável o Samanela «Pedra do concilio divino na monta-
nha»* a que os Europeus^ seguindo os Árabes, denominam
Pico de Adão, e antes os Budistas tinham chamado siri-
pãda em páli, em sámscrito srTpãda «signal do pé do
Bemaventurado » porque ali crêem que é ainda visível a
pegada de Buda.
O verdadeiro nome páli desta montanha é sumana-
kuta assim chamado porque a divindade (deva) Sumana
aí habitava, diz Childers (Pali Dict., s. v.), «montanha
dos felizes» ou, como diz Lassen^ «montanha dos Deuses».
Outro nome desta montanha é subhakuta «o monte bri-
lhante», o último de que no sul se despede o sol poente^,
Hardi, Manual of Budhism, páj. 211-212, dá a seguinte
lenda ceilonense :
«The dcAva (a divindade) of Samantakúta (outro nome do
Samanela), Samana, having heard of the arrival of Budha,
went to the place where he was ; and after he had Avor-
shipped him, he presented a request that he would leave an
impression of his foot upon the mountain of which he was
the guardian. That it might be worshipped during the five
thousand years his religion would continue among men . . .
Budha went to it (the mountain) through the air attended
í «It is 7420 feet above the levei of tlie sea and was consiclered
as the highest mountain in the island; but it has been discovered,
since the English carne into possession of the interior, that there
are at least three others that are higher, Pidurutalagala having an
elevation of 8280 feet. It will, however, always be the most remark-
able, from the many legenda connected with it, and the conspic-
uousness of its appearance especially from the sea; it is an insu-
lated cone, rising boldly into the sky, and generally cloud-capped.
It is supposed by the Chinese (Davis's Chiuese) that at its base is
a temple, in which the real body of Budha reposes on its side, and
that near it are his teeth and otlier relics'). (Spence Hardy. A Man-
ual of Dudhism, 1.^ ed., páj. 211.)
2 Lassen, Indische AUerthumskunde, 2.» ed., vol. i, páj. 233-34,
3 Na hipótese, na idéa de que fosse o mais alto. Cf. porém nota 1.
74
by ÕOO rahats (sane tos). At the right liand of the sage was
Samana, in beautiful garments and ricli ornaments, attend-
ed Ly ali his inferior dewas, with tlieir queens wlio made
music and carried flags and banners, and scattered around
gold and gems. Seki'a,* Maha Brahma,^ and Tswara,^ were
ali tliere with their attendant retinues; and like the rolling
of the great ocean upon Maha Méru or the Yugandhara
rocks, was their arrival at the mountain. The sun remain-
ed in the midst of the sky, but his rays were cold as
those of the moon ; there was a slight falling of rain like
the water that is sprinkled aronnd a throne to allay the
dust; and the breeze, charged with SAveet perfume, carne
from ali sides to refresh the illustrious visitant, At his ap-
proach, ali the trees of the moutain were as though they
danced in gladness at the anointing of a king. In the midst
of the assembled deAvas, Budha, looking towards the east,
made the impression of his foot, in length three inches less
than the cubit of the carpenter ; and the impression remain-
ed as a seal to show that Lanká is the inheritance of
Budha, and that his religion will here flourish».
Hardi esclarece dizendo em nota que o vestijio dos pés
de Buda é uma aindentation upon the summit of Adam's
peak.» Ibn Batutah descreve o pé de Adão na ilha de
Serendib (Ceilão) dizendo :
«La marque du noble pied, celui de notre père Adam,
se voit dans une roche noire et haute, et dans un endroit
1 Seera, Sacra ou Saca (Sakka em páli, Sakra em ser. «pode-
Yoso» epíteto de Iiidra) é um arcanjo do paraíso Tavatinsa. V. Chil-
ders, Pali Dict., s. v. Sako, mãro.
2 Não se confunda com o Brakma da relijião puránica. Na dos
Pítacas (livros sagrados búdicos) Maha Brahma «is simply the
ruler of a brahma-loka» (H. p. 41), dum mundo celestial superior.
Veja-se Childers, Pali-Did., u. s.
' Não se confunda com is vara «supremo senhor» em sámscrito.
Na relijião búdica encontram-se como «arcanjos» algumas das
principais divindades brahmánicas. Veja-se Childers, ut supra.
7õ
spaciexix. Le pied s'est enfoncé dans la pierre, de sorte
que son emplacement est tout deprime; sa longueur est
de onze empans. Les habitants de la Cliine y vinrent ja-
dis ; ils ont coupé dans la pierre la place dii gros orteil et
de ce qiii Tavoisine, et ont déposé ee fragment dans iin
temple de la ville de Zeitoim (Tseu-thoung) oíi ils se ren-
dent des provinces les plus éloignées».
O Dr. Davy* diz que a pegada de Buda é «a superficial
hoUow live feet three inches and three quarters long,
and between two feet seven inches and two feet five inches
wide» ; Gaspar Correia, que dá mais pormenores do que
Duarte Barbosa, diz que a pegada «he de hum covado de
comprido, e meo de largo» ; o autor do livro Fatalidade
Histórica da Ilha de Ceilão, diz que no cume do Pico está
«huma planicie mui redonda, e tem de diâmetro duzentos
passos, onde se vê huma alagoa mais profunda que dilatada,
de excellente agua manancial : . . .Em o meio daquelle ter-
reiro se vê huma lagem grande sobre algumas pedras la-
vradas, e nella estampada, como em cera, huma pegada
de dous palmos em comprido e oito dedos de largo» ^.
II. — A pegada divina e o naturalismo àrico
O facto natural é pois uma depressão no alto do monte.
Das lendas que explicam esse facto só a búdica tem
importância científica e histórica. Deixemos pois de parte
cuanto o mohametano Masudi e o nosso cronista Osório
nos relatam da raça de Caim e dos túmulos de Adão e Eva
naquela ilha; e vejamos como se explica em mitolojía a
orijem da lenda.
São mitos que se correspondem o mito do cavalo do herói
e o mito das pegadas divinas. Mas o cavalo do herói, que
1 Apud Sp. H., op. cit, páj. 212.
^ C. de Noticias p. a Hisi. e Geogr. d. P. Ultramarinas, V, da
1.' ed., páj. 63.
76
o defende, que o aconselha, que bate mesmo e vence os
inimigos do herói, representa a força, a rapidez, a enerjía,
a luz, a vida emfim ; as pegadas divinas são o vestijio duns
pés misteriosos que não se conhecem, que ninguém viu,
e que apenas ali deixaram selado o testemunho da sua
passajem depois do desaparecimento da divindade. Entre
os Gnósticos as solas dos pés gravadas em pedras repre-
sentavam a morte ^
Os últimos raios do sol atravessando o espaço e como
que lutando com a força que arrasta o deus luminoso à pira
que o devora, os x\\úmo& padas, i. e., os últimos «raios»,
dourando as cumiadas dos montes e como que emerjindo do
abismo, são o?, padas, i. e., os «pés» desse deus cuja túnica
vermelha é o crepúsculo e ele despe cuando vai morrer 2.
E ao meio desses jpacZas^ («pés e raios (jumãos dos astros»
em sámscrito^J, dies,&e& padas de luz, vê-se ainda nos últimos
momentos o disco solar pe'la impressão que deixou na re-
tina. A sua cor avermelhada é como que chaga sangrenta
dum cruel tormento.
Esses pés converjem mesmo um para o outro, sobre-
põeem-se, e o deus dos passos largos, o deus dos três passos,
fica o deus de um só passo, e o deus de um só pé cujo
tornozelo não se vê, ou como o explicam os Siameses,
cujo tornozelo está ao meio do pé, e cujos dedos são unidos
como os de um g alapada, os dum j^5aZ7Ȓpec7e.
Esta concepção tão singular do pé do deus tem grande
valor, se a compararmos com a concepção de que o Buda
Chacravartine tem o pescoço sem movimento independente
do corpo e que olha sempre de face, sempre na mesma
posição e tem de voltar todo o corpo cuando volta o rosto.
1 C. W. King, The Gnostics and tlieir Remains, Londres, 1864.
2 Em etíope «raios do sol-) ^ «pés do sol»; e num hino babilónico
ao Sol lê-se «pés» ^ «raios (do sol)». V. Journal Asiatiqve, novem-
bre-décembre 1888, p. 517. Em sámscrito pada significa «raio do
sol, ou dum astro, pé, mão dum astro.»
i i
É indubitavelmente a concepção antropomórfica do sol *.
A complicação dos mitos, e dos ritos que são a sua
imajem, resulta da combinação das observações naturais
com a idéa do culto na sua forma mais símplez. O ritual
védico é a reproducção da mitolojía védica; e o dominio
da mitolojía védica abranje a Terra e o Céu. O mitólogo,
por consecuencia, não pode explicar a mitolojía védica só
pelo Céu nem só pela Terra.
E de facto o ritual representa os fenómenos do mundo
celeste, e o mundo celeste só conserva a sua ordem pe'la
ordem do sacrifício. A ordem litúrjica e a ordem cosmo-
gónica são interdependentes.
Dizía-me um dia Adolpho Coelho : — «Jamais deve o
mitólogo esquecer que o céu, a terra e o mar se confundem
cuando o homem rudo explica os fenómenos da natureza;
o que há na terra há no mar e o que há no mar há na
terra, e o que há no céu há na terra e no mar».
Partindo deste principio de que já me servi neste es-
crito, tento dar outra explicação das pegadas divinas no
alto dum monte.
Ao montículo de terra, altar levantado no logar do sacri-
fício védico e a oriente, chamava-se vedi. A uttara-
vedi superior, culminante, é a vedi do fogo. Ao meio
tinha uma cova a que se chamava nãbhi, i. e., «um-
bigo», onde se lançavam os bocados da carne e o soma^
a bebida dos deuses e dos sacrificadores, fermentada, com-
bustível, às chamas do fogo do sacrificio.
Extincto este, morto Agni, ficam apenas os vestijios no
logar onde ele pousara, fica a nãbhi, a cova aberta no
• Cf. com toda esta explicação Sénart, Essai sur la legende du
Buddha».
78
cimo do monte mais alto como pegada única desse deus
que ali se extinguiu.
Assim o hino 1G4 do mándala I do Rigveda diz na ri-
che 34:
«Pergunto-te pe'lo fim mais extremo da terra; pergun-
to-te onde é o umbigo do mundo; pergunto-te pe'la semente
do cavalo; pergunto pe'lo mais alto céu da voz».
E na riche 35 responde-se :
«Esta vedi é o mais extremo fim da terra; este sacrífi-
cio é o umbigo do mundo * ; este soma é a semente do ca-
valo; este Bráhmane o mais alto céu da palavra».
O meu professor em Munique, o falecido dr. Martinho
Haug, o orientalista que melhor explicou este hino tão eri-
çado de espinhosas dificuldades, e de problemas misterio-
sos, não diz, em o estudo consagrado ao hino e por ele
próprio pouco antes de morrer publicado com o título de
nVedische Eaethselfragen und Baethselsprilchei)'^ o que seja
o cavalo. Mas nem carecia. E a nuvem prolífica que pe'las
chuvas traz a fertilidade à terra, é ainda o cavalo de Agni
ou o próprio Agni, o fogo celeste, mensajeiro do sacrificio
ou conductor dos deuses para sobre o altar do sacrificio.
E prolífico, porque ao fogo celeste, ao raio, sucede-se
a semente, i. e., a chuva que torna a terra própria para a
produção e que leva, como em diferentes passos dos Vedas
se menciona, o fogo ao seio das plantas.
1 Confronte-se a concepção grega de que o templo de Delfos era
o centro do mundo. Os budistas julgavam também que o centro do
mundo era rigorosamente marcado pe'la árvore sagrada do templo
próximo de Buda Gaia. Tanto em Roma como na Grécia, Vesta, Hes-
tia, designam e santificam o lume no centro do altar, o lume^no in-
terior da casa, o lume da povoação, o lume da cidade, o do povo
sujeito à lei pátria, o fogo central, a Terra como centro do Universo.
2 E um Separatabdruck dos «Sitzungsberichten der philosoplii-
schen und historischen Klasse der koeniglich baierischeu Akademie
der Wissenschaften zu Miinchen» e tem por título subsecuente
àquele «Uebersetzung und Erklârung des Dirgbatamas Liedesi
lígv. I, 164«.— Miinchen 1876.
79
O mais alto céu da voz é o Bráhmanc, diz a riclie 35.
E o Dr. Martinho Haug explica: «O Bráhmane de que
se trata c provavelmente apenas o Brahmá, presidente ao
sacrifício ; nele se encontra toda a ciência sagrada, — todos
os hinos, sentenças etc, — que só ele com a sua voz pode
entoar è fazer ouvir».
A esta explicação posso ainda acrescentar: que o Brahmá
presidindo ao sacrifício não era o mais alto céu da voz se-
não como representante, na terra, do deus que fazia ouvir
a sua voz no céu. E ela a vãg ãmbhrni, a «voz da
nuvem» cantada em o hino 125 do mándala X do Rigveda,
e no hino 30 do canda IV do Atarvaveda* É ela a voz que
anuncia a vontade do deus ; é ela a mensajeira do céu, a
inspiradora porque revela a palavra sagrada, a «mensajeira
divina» de que falam os Ríxis, os poetas védicos, e tam-
bém Homero ; é ela a que proclama a lei da ordem uni-
versal tanto comosgónica como litúrjica.'^ E ela como a voz
da çarça ardente, terrível e ameaçadora; mas também
suave e májica como o canto da flauta dos Matutes e de
lama. E ela que se faz ouvir, descendo sobre a terra, de
lá de cima, do deva-sãdanam, da «morada dos deuses»
onde subiram os mortais que fícaram imortais, e onde cor-
rem a flux ondas de soma e onde ecoam os cânticos e as
melodias da flauta divina de lama^ onde está a árvore de
esplêndidas folhas ^.
E se recordarmos fínalmente que em mitolojía (árica,
pe'lo menos), árvore, montanha e altar, são sinónimos e ex-
pressões cuási idênticas, fíca assim plenamente conhecida
a ligação «do cavalo do herói» e das «pegadas do deus»
no alto de montanhas, símbolos cuási inseparáveis na reli-
jião búdica.
1 Veja-se a magnífica tradução de Whitney em os Essays, de
Colebrooke, vol. I, páj. 113.
2 Bigveda, I, 151, 4, 6 ; com 13, 3.
^ Cf. Rigveda, X, 14, com X, 135.
80
Para maior contirmaçâo do que fica dito encontra-se no
Rigveda a expressão ilas-pade (II, 10, 1; etc.) a na pegada
ou no logar de Ilá (à letra)» designando o logar onde Má-
nus acendeu o lume e fez erguer Agni. A esta expressão
corresponde outra ilãjãs-pade (III, 23, 4; etc), designa-
tiva do logar onde nasceu Agni.
Ilã é a agua da nuvem, é o arco-íris, é o bem em jeral
que os homens recebem da divindade, é a oferta sacrificial.
Personificadamente é a filha de Mánu, tem o seu logar no
altar do sacrifício, na morada dos sacrificadores, onde está
assentada; é também na lenda do diluvio a filha e a mu-
lher de Mánu, é a filha da oração personificada, é a mãe
dos homens actuais. Nesta ordem de idéasllã, personifi-
cação da súplica e da oração dos homens para com a di-
vindade, é uma gn ã, um ente feminino e divinal, amante do
deus (por excelência Agni) a quem se entrega ao nascer
do sol e à hora em que o sol desce abaixo do horizonte,
unjida do pingo santo do sacrificio, como Aramati outra
personificação da prece.
Finalmente : diz o Rigveda que «três vezes Víxnu (o Sol
ou Agni, neste logar) pôs o pé sobre a Terra deixando a
pegada no pó» (I, 22, 17), e que «a pegada superior do
pé de Víxnu é o logar mais alto de Agni» (X, 1, 3), «o
cual tem ali a forma misteriosa» (V. 3, 3), e que «o logar
supremo que o preste acende é o da pegada suprema de
Víxnu» (I, 22, 21).
Assim, pois, concluímos que ao mito das pegadas de
um deus no alto de um monte corresponde litúrjicamente
o logar onde se acende o lume, o logar que, cosmogónica-
mente, é o centro do Mundo * ; e que dentre os fenómenos
naturais corresponde a esse mito o erguer e o pôr do sol.
^ Cf. na mitolojía clássica greco-latina Yesta, o altar de Vesta,
o centro do Mundo, recorde-se páj. 78, linhas 9-11 e a nota respec-
tiva.
EEJISTEO ALFABÉTICO
Adrasto. V. cavalo.
Aggasãvikã, 20 n. 7.
Agni, ágni : 66, 77, 78; compa-
rado a um cavalo, 66 ; cavalo
de — , 78, leva o sacrificio aos
deuses, 66, 78; traz os deuses
ao altar do sacrificio, 66, 78;
alimeuta-se do vento, 66 ; ami-
go do vento, 66; logar mais
alto de -, 80.
Agrasrãvikã, 20 n. 7.
agua maravilhosa, 64.
Ainos : lenda da sua orijem, 6.
Alexandre. V. cavalo.
Amazonas que concebera da
sombra do homem, 67 n. de p.
66.
Amenti, 68 e n. 3.
Andamanes : têem aspecto de
cão, 5 ; lenda da sua orijem,- 5
- n. 1.
andar para trás, 69.
Antão (S.), 10.
antropófagos, 6.
antropofajía. 6.
Aquiles. V. cavalo.
Aralez ou Arlez, 9.
arco-íris, 80.
Arion, 59.
árvore, 78 n. 1; de esplêndidas
folhas, 79 ; folhas de — que se
mudam em vasos de ouro, 28 ;
— , montanha e altar, 79. V.
Cares.
assassínios que se referem à edi-
ficação duma cidade, .54.
Átila, 7.
Atlas, 68.
avadãna, avadana, 61 n 2.
Axuatáman. V. cavalo.
Axuínos. V. cavalo.
Baiardo. V. cavalo.
bastão. V. cajado.
Belgas : antropófagos no tempo
dos Romanos, 6.
'A Bengala de Mr, de Balzac',
60.
Berma. V. Cares.
Bodisatua: nascido duma égua,
48; sua côr, etc, 48. Cf. ca-
valo branco do herói.
Borus, os antigos Prussianos,
homens com focinho de cão, 6.
botas : de cortiça, 60 ; do rapaz
que procura as três irmãs, 60,
61 n. 1.
Brahma, 74 n. 2.
Brahmá, 79.
82
Bráhmane, 79.
bruxa, 8.
Buda, 49. V. Bodisatua, cavalo,
Chacravartine, pegada, Sara-
buda, Tatágata, vento.
cabeleira maravilhosa, 60.
cadela que amamenta Ciro, 7.
cães, de que descendem heróis,
substituídos na lenda por lo-
bos, 7. V. Gares, Cérbero, Chi-
nuate, lama.
caixão de defunto : atravessar
com um — , vazio, por cima
dos caboucos da casa, 54.
cajado maravilhoso, 63.
Çamatra, lo.
Cántaca ou Kanthaka. V. rin-
chão.
cantos májicos, 58. V. flauta.
cão: vermelho, 6; homens com
focinho de — , 6 ; animal sa-
grado, 9 ; a sua lingua é ben-
ta, 9 ; o olhar do — , 9 ; lendas
de indivíduos ou povos oriun-
dos de um — 3, 5, 6, 8. V..
cães, Aralez, Cérbero, lama,
ludíxtira.
capa : do Diabo-coxo, 60. F. ta-
pete, proloquio.
çapatos encantados, 60, 60 n. 2.
Cara-Quirguizes, lenda da sua
orijem, 6.
Cares de Pegu e sul de Berma,
3; trazem suas naturas em cas-
cavéis, 4 ; escondem-nas em
canas, andam nus, 5 ; copu-
lam-se como cães, 5; os ho-
mens teem boca e fauces de
cão, 5; as mulheres são for-
mosas e cobrem o corpo com
folhas de árvores, 5.
Caribas, como os descreveram
os Cubanos a Colombo, 6.
cavalo: de Adrasto, 59; alado,
descrito por Ariosto, 59, 66;
de Ágni, 78; de Alexandre,
60; de Aquiles, 60; de Axua-
táman, 60; dos dois Axuínos,
60; de Baiardo, 60; de Buda
ou do Chacravartine, 65, 65
n. 3, 71 ; de Darío, 60; de Es-
quírnero, 60; de Indra, 60;
de Kávana, 60; do Sol, 66;
íilho do vento, 66, 67 n. de p.
66. V. Agni, Soma.
cavalo branco do herói. V. sg.
cavalo maravilhoso ou májico,
cavalo do herói, 25, 26, 37,
41, 71, 75, 79 ; játaca do — , ou
do cavalo-nuvem, 45 sgs., 54,
59, 60; transformações do —
nas lendas, 60.
Ceilão, 13, 72, 74; conhecida
2400 anos antes da nossa era,
14, n. 3. V. Ceylão, sândalo.
centro-do-mundo, 78 n. 1, 80.
Cérbero, 9; os cães de cuatro
olhos, 9, e n. 2 na p. 10, p. 10
n. 1.
Ceylão, 71. V. Ceilão.
Chacravartine, 65; o Buda — ,
como volta a cabeça e como
olha, 76.
Chinuate, a ponte — , 9, 10,
chuva, 78.
Ciro, 7.
cofre maravilhoso, 63,
crisma ou tótemo ou dodaime :
relação deste facto com a lenda
de um individuo ou de um po-
vo ser oriundo de cão ou fera
e individuo humano, 7, 8,
Cuxitas, 14.
Darío. V. cavalo.
Devaloka, 20 n. 7.
Devaputra, Devaputta, 20
n. 7.
Diabo-coxo, 60.
dodaime. V. crisma.
Duzaque, 10.
Édipo, 8 n. 1, 28.
éguas da Lusitânia, 66.
Ejipto: relações comerciais do
— com Ceilão, 14, e n. 3, 19
n. de p. 18.
Electra, 57.
Esquírnero. V. cavalo.
Euridice, 67.
feras : de que descendem ho-
mens, 6, 7, 8 ; — que amamen-
tam heróis, 7, 8.
Finlândia : homens-cães da— ,6.
flauta de lama, dos Marutes, 79.
fogo, 78. V. Agni.
frángâo : morto lançado nos ali-
cerces da casa, 54.
Galos : antropófagos no tempo
dos Romanos, 6.
ghãna, 22 n. 3.
Gibelinos, 8.
gnã, 80.
Gnósticos : V. pé.
Goi-gonas, 68.
gorila, 55.
Guelfos, 8.
harpia, 57 ; — Podargue, 66,
n. 7.
Hánumat, 72.
Hermes. V. cabeleira.
herói. V. cão, cavalo, fera, rin-
chão.
Hestia, 78 n. 1.
Hipocrene, 60.
Hizan, 59 n. 3.
lama: cães de — , 9; flauta
de — 79.
ignis. V. ágni.
Ilá ou 11 ã, 80.
Indra, lÓ, 20 n. 5 e 6.
ludíxtira : entra no paraíso com
o seu cão, 10.
íris, 57. V. Ilá.
Isuara (Ixuara), 74.
i avara, 74 n. 3.
luearés, 8.
Jina, 22.
Kanthaka. V. rinchao.
jccpêspoí, 9, 9 n. 3.
Khemã, 22 u. 7.
krandaka. F. rinclião.
Lala, 14, 15, 17, 19 n. 4 de p.
18.
lâmpada falante, 25, 54, 59.
Lancá ou Lanká ou Lankã,
11, 12, 14, 17, 74.
Larikê, 15.
leão: de Héracles, 54; de Mé-
gara, 54 ; nas lendas da idade-
-media, 55; nas lendas do Pe-
loponeso, 55 n. 1. V. Simha-
báhu.
leite : maravilhoso, 64 ; játaca do
senhor do — , 64 n. 2.
Ling-kia^ 12.
loba, que amamenta o herói, 7.
lobisomem, 8.
Lot, mito das filhas e mulher
de — , 67.
lume. V. ágni.
maçã maravilhosa, 64.
Mahabárata, Mahãbhãrata,
10, 11, 14, 60.
Malabar, 52, 53 n. 4.
Malaias : montes — , 52.
manto que transporta pe'lo ar,
61 n. 1.
Mánu ou Mánus, 80.
mar-celeste, 58.
Marutes, 57, 58.
Medusa, 68.
monocerote e a donzela, 55.
montanha, monte : dos deuses,
dos felizes, 73; brilhante, 73.
V. árvore, Malaias, pedra,
pegada,
monte. V. Atlas, montanha,
morte : simbolizada por solas
de pés gravadas em pedra,
76.
morto : enterrado nos caboucos
84
da casa é divindade tutelar
dela, 54. V. caixão, frángao,
phallvs.
nãbhi. V. umbigo (do mundo).
nibbãna. V. parinibbãna.
Nicobares : descendem de cão e
mulber, 5 ; seu aspecto singu-
lar, 5 n. 1 ; — e Bermas, 5
n. 2.
nirvana. V. parinibbãna.
nuvem. V. cavalo -nuvem, voz da
nuvem.
óculo maravilhoso, 64;
ogres, 58.
olhar para trás, 26, 67.
olharapos, 58.
Orfeu, 67.
pada, 76 n. 2
padas «pés e raios», 76
P'ao-tchu, 11, 31, 34, 35
parinibbãna, 20 n. 1; 23 n. 5.
passos: dum deus, 76, 80.
pedra: indivíduos convertidos
em — , 67,68; bater numa — ,
69; — do concilio divino na
montanha, 73. V. pé.
pegada : de um deus no alto de
monte, 71, 71, 75, 76, 78,
79, 80; — humana, 71; — de
Adão, 72, 74, 75 ; lenda da —
de Buda, 73, 74 ; dimensões
da — de Buda, 74, 75 ; — de
Moisés, 72 ; — de Víxnu, 80.
Pégaso, 59, 68.
Perseu, 68. V. sandálias.
phallus: lançado no fosso da
nova cidade, 54.
Pico de Adão, 73, 74.
Podargue. F. harpia.
Ponte de Adão, Ponte de Rama,
72. V. Chinuate.
Prixni, 58.
proloquio : «quem tem capa sem-
pre escapa», 60. V. andar para
trás; terra.
Prussianos. V. Borus.
raios do sol, dos astros, são os
seus pés, 76 e 76 n. 2.
Rama, 53, 72.
Ramáiana, 11, 51, 72.
ratna-dvípa, 11, 35, 35 n. 1.
Rávana, 11, 72. V. cavalo.
Raxasis, Râkchasís, Râkshasis,
25, 26, 31 e segs; 55, 56, 57
e 58 ; a lenda das — da ilha
de Ceilão é um j ataca búdi-
co, 43.
relinchar: do cavalo do herói,
65.
Remo, 7.
Rigveda : passos do — citado a
páj : 10 n. de páj. 9; 66; 66
n. 1 a 6; 79; 79 n. 2, 3; 80.
rinchào, é o cavalo do herói e
especialmente o de Buda, 65
n. 3.
rochedo Cauta, 68.
Rómulo, 7.
sabala, 9 n. 3.
Sabeus, 14,
Sacra, 74, n. 1.
sacrifício, 7, 54, 77, 78, 80.
Sakka, Sakra, 74, n. 1.
Samana, 73. 74.
Samanakuta, 73.
Samanela, 71, 73.
samãdhi, 22 n. 3.
samãpatti, 22, n. 3.
Sambuda, 20, e n. 1, 22, 23.
sarvara, 9, n. 3.
Sailan, 13.
Sálai, 12.
Salikl, 12.
sandálias : de Perseu, 60.
sândalo, 52, 53.
Secra, 74, n. 1.
Seilan, 13.
Sekra, 74.
sela. V. manto.
semente do cavalo, 78.
85
Seng-lcia-lo, 12, 3G e passim.
sereias, 57.
Serendib, 12, 74.
Serendivus, 12.
Setu-bandha, 72.
Sielediba, 12.
Sihabáhu. V. Simhabáhu.
Síhala, Sihalâ, 13, 17, 17 n.
2, 35 n. 2.
Síhala-dipo, 12.
Si h apura, Sihapura, Simha-
pura, 17, 19 n. de p. 18.
Silâ, 13.
Simhabáhu, 17 ; lenda de — ,
27 segs.
Símhala (o principe), 25.
Símhalas, 12, 13, 14, 25. V.
Símhala S ih ai a.
Sihala, 12. V. Sihalà.
Síhala-dvipa, 12, 26, 53.
Sirindih, 12.
Siripãda, 73.
Sofala, 19, n. de p. 18.
sol : olho dos deuses, cavalo
branco, 66; comparado a Agni
ou a Víxnu, 80 ; relação do pôr
do sol com a pegada de um
deus no cimo dum monte, 80.
soma, 77, 78, 79.
Sripãda, 73.
Subhakúta, 73.
Sumanakúta, 73.
Supara, Suppara, 18 e n. 4.
Talátala, (58.
Tambapáni, Tamba-panni,
13, 19, 21, 21 n. 2, 5l'. 'f.
Tãmra-parni.
Tãmra-dvipa, 11, 25, 26, 51.
Tãmra-parna, 11, 13, 14, 25,
51, 53.
Tãmra-parni, 52, 53 n. 4.
tapete voador, 60, 64. V. capa.
Taprobana, 13, 13 n. 3, 14, 21
n. 2, 25.
Taprobánè, 14 n. 2.
Tártaro, 68.
Tatágata, 22 e Tathãgata, 22
n. 4, 42.
Tavatinsa, 74 n. 1.
terra : bater na — , 69.
Thaúmas, hl.
Tiri, 8.
tótemo ou dodaime. V. crisma.
umbigo do mundo, 77, 78.
Upalavana, Uppalavanna,
Uppalavannã, 20, e n. 7.
uttara-vedi, 77.
vãg ãmbhrni, 79.
vedi, 77, 78.
vento: o cavalo de Buda sus-
tenta-se bebendo os ventos ;
— amigo de ágni, 66 ; con-
cebem dele as éguas da Lu-
sitânia, 66; é dele filho o ca-
valo árabe, 67 n. de p. 66; e
o cavalo descrito por Ariosto.
Vesta, 78 n. 1, 80 n. 1
Vijaia : 28 ; 53, e n. 4 ; lenda
de — , V. p. 17 segs.
vimokha, 22 n. 3.
Víxnu, 20 n. 7 ; 64 ; passos
de — , 80.
voz : reveladora, 79 ; — da nu-
vem, 79 ; — da çarça ardente,
79.
Yakkhinis (laquinis) : comem
jente, 47, 48; depois do que
fica-lbes o corpo frio, 47 e n. 2.
Zafar, 19 n. de p. 18.
Zéfiro, 66 n. 7.
Zoroastreus : como consideram
o câo, 9, e n. 2; 10, e u. 1.
ÍNDICE
Pi'efacio i-vii
Introdução 1
I Os monstros de Pegu. Os homens-cães 3
II Orijern do nome de Ceilão 11
III Conquista da ilha de Lancá, e fundação do reino Sin-
galês ou dos Leões, segundo o Dipavamsa /. . 17
IV O príncipe Simha salvo pe'lo cavalo májico 25
V Orijem do reino de Simha, segundo o Mahavamsa 27
VI Orijem do reino de Símhala. A lenda das Raxasis e do
cavalo májico, segundo Hiuan-Tsam 31
VII O Játaca do Cavalo-Nuvem 45
VIII Valor histórico e jeográfico das lendas precedentes. ... 51
IX Raxasis, Sereias e Harpias. Os cantos celestes 57
X O cavalo do herói. Transformações do mito do cavalo
májico : çapatos encantados, botas de cortiça 59
XI La dispute des deux démons 63
XII O rinchar do cavalo do herói. O olhar para trás 65
XIII As pegadas dum deus no alto dum monte :
I. — Pegada de Adão e Ponte de Adão 71
II. — A pegada divina e o naíturalismo árico 75
Rejistro alfabético 81
PQ Vasconcell os -Abreu, Guilherme
9226 de
V3 Passos dos Lusíadas
PLEASE DO NOT REMOVE
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